Situada a beira de uma das vias mais movimentadas de Macapá, que liga o centro comercial a zona norte da cidade, esta casa cheias de fitas e faixas pintadas sempre me chamou atenção pelo seu apelo visual. Entretanto, por não se tratar de um local que fosse do meu cotidiano, e um local de tráfego intenso e pouco estacionamento, sempre adiava uma parada para um olhar mais aprofundado.
Porém, a mudança de familiares para um bairro próximo, e a passagem mais frequente pela rua notei que o exagero dos adornos esvoaçantes e coloridos que a priori associara a publicidades rústica, tinha um contexto totalmente diferente.
Para meu espanto e curiosidade, tudo que ali estava pintado estava relacionado a um desabafo de alguém para com as instâncias do poder. O problema é que passou-se o tempo e os governantes e, nada desse processo cessar, pelo contrário, as imagens aumentaram tanto que tomaram toda a fachada do prédio.
Resolvi então dar uma parada rápida e fotografar um pouco, um forma mesmo de sondagem para um trabalho posterior. Confesso que de início esse "processo criativo" me remeteu ao trabalho do poeta Gentileza.
Meu intuito era fazer umas fotos rápidas da fachada, contudo, fui abordado por uma pessoa que me fez um convite quase forçado para visitar o interior da casa. Esse sujeito saiu me direcionando por todos os cômodos do imóvel pedindo para fotografar tudo, descrevendo todos os processos de produção e materiais recolhidos para novos objetos, tentando sem muito sucesso me explicar o era aquilo que estava a minha frente.
De repente, percebi que estava caminhando por vários cubículos da casa, um verdadeiro labirinto de faixas com frases pesadas e tensas e com uma pessoa que estava totalmente atormentado e obcecado com esse processo. Só assim, me dei conta que essa pessoa era o autor dessa "construção surreal", controlei minha inquietude e passei a tentar conversar e entender o que ele queria que eu fotografasse.
Ele me explicou que fora atropelado por um carro oficial, não deixando claro o órgão e ficou com cicatrizes e sequelas que o levou a perder a família, etc. Ele dizia que vivia a base de medicamentos 24 hs, e com uma dor que não passava de jeito nenhum. Tudo naquela casa tinha algo grifado com sua revolta e expressão de sua dor.
Confesso que foi um dos 15 minutos mais atormentados da minha vida, sai do local tão impregnado com o que vi que demorei a esquecer a experiência. Acredito que só voltarei ali com alguém especialista, de uma impressão inicial dos trabalhos do Gentileza, sai convicto que estava mais próximo do Bispo do Rosário.
Abraços a todos.
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Abraços