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Namorando a vovó


Paulo Rebêlo/Terra Magazine
Mesmo depois de todas as revoluções culturais, sociais e sexuais, muita gente ignora a liberdade que a gente tanto quis e nunca teve
Mesmo depois de todas as revoluções culturais, sociais e sexuais, muita gente ignora a liberdade que a gente tanto quis e nunca teve

Paulo Rebêlo
De Brasília (DF)

Segunda-feira, a jovem manceba chega ao escritório com o sorriso na testa. Antecipa-se a todos para dizer que "beijou muito" no fim de semana.

Foi para todas as baladas, dançou, esfregou, pegou geral.

As colegas aplaudem, comentam, pulam, incentivam.

E se aquelas donzelas preferissem trocar toda a pegação

da balada por um final de semana em casa,

assistindo Zorra Total na televisão,

com um pote de häagen-dazs no colo e um namorado coxinha

que segure a mão delas enquanto ri com as piadas super engraçadas

do Chico Anysio ao telefone com a Dilma?

E elas acordariam cedo no domingo para brincar de casinha:

ir ao mercado fazer a feira da semana, comprar iogurte light, frutas frescas e verduras orgânicas.

Para depois ir almoçar com os pais TFP do coxinha, em verdadeira comunhão familiar.

Não é ficção. Ainda não consegui entender como tanta gente,

cada vez mais jovem, sonha com uma vida assim já tão cedo.

Mesmo depois de todas as revoluções culturais,

sociais e sexuais que tivemos nas últimas décadas.

Justamente para que nossos filhos e netos

pudessem ter a liberdade que a gente não teve.

Essas moças e rapazes podem fazer tudo que nossas avós nunca puderam.

Mas entre desbravar o mundo com as próprias

pernas ou arrumar um "namorido", escolhem o primeiro coxinha que aparece.

É como se o Luciano Huck tivesse se transformado no modelo de marido ideal.

É natural a gente querer um pouco de chão.

Nem que seja um chão com colchonete e sem ventilador.

Mas quem sonhava com isso aos 20 e poucos anos eram nossas avós.

Quando era pecado passível de queimar no fogo dos infernos

uma mulher passar dos 30 sem marido.

Nunca tivemos tanta liberdade para fazer tudo.

E quanto mais liberdade se tem, mais fico com a impressão q

ue elas estão parecidas com nossas avós.

Nunca botaram os pés para fora de casa, mas já querem uma vida de novela.

Com casa própria, armários para roupas e sapatos,

TV por assinatura, internet rápida, carro zero,

roupas que aparecem na televisão e um sapato para cada ocasião diferente.

Mas se você perguntar onde fica a padaria mais próxima no bairro,

não sabem responder.

Não sei se há culpa de novelas ou de seriados enlatados.

Sei apenas que o discurso das neo-vovós é assustador.

No dia a dia, na vida contada aos amigos, tudo é muito moderno.

Baladas, alta gastronomia e sexo toda hora e em todo lugar.

Na prática, sonham com a vidinha que a vovó se orgulharia.

Sem nunca pular para o outro lado do cordão de segurança no carnaval de Salvador.

Viajar sem planejar, sem destino e sem mapa?

Pode acontecer uma tragédia.

Elas viram no Fantástico que essas coisas acontecem.

Deve ser muito difícil namorar uma vovó.

Paulo Rebêlo é jornalista - www.rebelox.com

w.blogger.com/post-create.g?blogID=3992487317171157287

(Erinaldo Alves)

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