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José Rufino


José Rufino nasceu José Augusto. A escolha do nome de seu avô como identidade artística está diretamente ligada a seu interesse pela história das coisas, lugares e pessoas que cruzam o seu caminho, e que alimentam seu impulso criativo. A ele interessam os fragmentos de vivências e sentimentos que impregnam objetos do cotidiano, outrora manuseados por pessoas já perdidas no tempo.
Utiliza materiais relacionados à história de sua família, como documentos, cartas, escrivaninhas, cadeiras que aparecem em suas instalações, objetos e desenhos. Todo um repertório afetivo está presente em sua obra. O campo da arte torna-se um lugar para resignificações de toda uma narrativa pessoal e familiar.

No final da década de 1970, freqüenta os cursos de extensão da Coordenação de Extensão - Coex, na Universidade Federal da Paraíba - UFPB. Inicia sua produção artística na década de 1980. Em 1983, muda-se para Recife onde tem contato com artistas e poetas relacionados à arte postal e poesia visual, entre eles Paulo Bruscky (1949). Gradua-se em geologia na Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Recebe o primeiro prêmio no Concurso do Cartaz da Semana da Biblioteca, realizado no Recife, em 1988. Esteve na 6ª Bienal de Havana, 1997. Integrou o 25º Panorama da Arte Brasileira, no MAM/SP, 1997.


Em uma década e meia de atividade intensa, José Rufino desenvolveu uma das mais inventivas trajetórias da produção brasileira contemporânea, fazendo da memória individual (de outros ou sua) uma passagem para a rememoração coletiva. Ao longo de toda a infância, o artista passou longas temporadas no engenho do avô paterno, no município de Areia, Paraíba. Apropriando-se, já adulto, do nome e dos guardados de seu ascendente, por vários anos desenvolveu trabalhos em que lidava com o universo escriturário e sentimental no qual seu avô vivera e exercera o poder dos donos. Documentos, cartas, livros, cadeiras, escrivaninhas, carimbos, velhas máquinas de datilografar: tudo virava suporte para a criação de objetos, instalações e desenhos. O que era história privada e antiga tornava-se, com seu gesto, obra pública e recente.

Hoje prescinde dos rastros materiais de sua memória afetiva para transitar entre tempos distintos. Interferindo em documentos que registram negócios passados de lugares diversos (portos, ferrovias, repartições públicas), José Rufino tem evocado o cotidiano emaranhado em que viveram aqueles que os manusearam e tem aproximado, num processo de universalização de suas lembranças de origem, o interior da Paraíba a parte qualquer do mundo. Além de vários tempos, são também espaços distantes que se roçam nas construções do artista.

Exposição Silentio em Viana

José Rufino realiza a operação de deslocar tempos e sentidos. Se recupera lembranças há muito afastadas do embate com o mundo, as encobre, em parte ao menos, com as marcas de pigmento escuro; se desvela significados não partilhados por muitos, no mesmo instante os esconde ou muda. Inscrito nessa indecisão aparente, há o desejo de construir situações que reclamem o que é recalcado ou pouco levado em conta pela historiografia culta. Expondo testemunhos por anos condenados à invisibilidade social. Ele não se detém apenas na articulação original de textos antes indisponíveis à consulta; faz da própria atuação sobre a materialidade frágil desses escritos elemento indispensável para ativar, no âmbito do enunciado artístico, o sentimento comunal de ausência que embutem.


Comentários

Anônimo disse…
Galera esse cara é meu professor de Sedimentologia e Estatigrafia, caraca nada a ver, mas ele é ótimo tanto nas artes como nas ciencias, demais!
Anônimo disse…
Eu tive a oportunidade de ver uma exposição dele na casa França no Rio de Janeiro - "Ulisses" toda de material recolhido dos sitios arqueologicos do porto do rio. Muito bonito vale a pena conferir.

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