Pular para o conteúdo principal

A FORTALEZA SÃO JOSÉ DE MACAPÁ: 228 ANOS DE HISTÓRIA E INSPIRAÇÃO

O Amapá possui um dos maiores monumentos da arquitetura militar edificados pelos portugueses no período colonial. A Fortaleza de São José de Macapá é tão imponente que foi elevada à categoria de patrimônio nacional em 1950, quando foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN. Recentemente, em 2007 foi eleita uma das sete maravilhas do Brasil, concurso realizado pela Revista Caras.

Fig.1 - Vista Aérea da Fortaleza São José de Macapá (no braço esquerdo do Rio Amazonas)
Fonte: Site do Governo do Estado - Autor desconhecido

Castro (1999, p.132) comenta que em relação à história militar do Amapá, do ponto de vista das fortificações, constituiu-se em três períodos distintos. O primeiro momento iniciou-se por volta da virada do século XVI para os meados do século XVII, caracterizado pelas disputas das Terras do Cabo Norte entre holandeses, espanhóis, portugueses, franceses (apenas no Maranhão), ingleses e até irlandeses. Contudo, o autor destaca que apesar deste período ser relevante para história da colonização do nosso país, ainda é pouco explorado pela literatura histórica vigente.

Quando se refere neste texto à Terra do Cabo Norte significa a área do povoamento da Capitania Cabo do Norte, criada em 14 de julho de 1637 pelo rei Felipe IV (rei de Espanha e de Portugal) para combater os invasores e defender a necessidade de ocupação do delta do rio Amazonas. Atualmente, essas terras compreendem o estado do Amapá indo até o rio Nhamundá (hoje Paru). (SANTOS, 2001, p.11).

Fig. 2- Detalhe do mapa da Região Norte - destaque no Amapá e a fronteira com a Guiana Francesa
Fonte: portalsaofrancisco.com.br
O segundo momento caracteriza-se pelo crescimento da atividade militar na região, voltado para a consolidação do território, com intuito de manutenção e expansão das possessões portuguesas no Cabo Norte. Castro (Idem, p. 134) destaca que esse movimento se constituiu de um caráter exclusivamente militar.

Esta intervenção foi necessária logo após a destruição da última posição militar holandesa no Amapá, em 1646, mas os portugueses não detinham nenhum sinal permanente que marcassem a sua posse. Em 1663, os franceses recomeçaram a ocupar a Guiana e, pouco depois reivindicaram não somente a posse da Guiana, mas de todas as terras até o rio Amazonas, um perigo para a Coroa Portuguesa.

Santos (Idem, p.16-17) ressalva que em 11 de abril de 1713, ocorreu à assinatura do Tratado de Ultrecht entre Portugal e a França, estabelecendo o rio Oiapoque como limite entre o Brasil e a Guiana Francesa. Contudo, na prática esse acordo não foi respeitado, não impedindo seguidas incursões francesas na região.

O terceiro momento, que também coincide com ascensão Marques de Pombal, por volta de 1750, ao cargo de primeiro-ministro português. A era pombalina (que durou cerca de 30 anos) marca uma profunda mudança na política com relação à Amazônia.

A principal transformação foi que se reconheceu que umas poucas fortificações isoladas não eram suficientes para garantir a posse, e passou-se a apoiar os mecanismos que facilitassem o comércio e o surgimento de povoações, dentre estas destacamos a de Macapá (CASTRO, Idem, p. 35). Em 1758, o povoado de Macapá foi elevado à categoria de vila.

Este período também é marcado pelo medo português que as Terras do Cabo Norte voltassem a ser alvo de disputas devido às tensões que ocorreriam na Europa e na América do Norte com a Guerra dos Sete Anos (1756-1763). Onde de um lado estava à França, Áustria, Saxônia, Rússia, Suécia e Espanha, e do outro lado, a Inglaterra, Portugal, Prússia e Hannover, dentre vários fatores que desencadearam a guerra, podemos destacar a disputa entre a Inglaterra e a França pelo controle comercial e marítimo das colônias das Índias e da América do Norte.

Assim, em resposta a essa ameaça foi autorizada por D. José I, em 1764 a construção da Fortaleza São José de Macapá, com objetivo de assegurar aos portugueses o domínio territorial sobre as terras situadas entre os rios Amazonas e Oiapoque.

A Fortaleza São José de Macapá foi inaugurada em 19 de março de 1782, e constitui-se até hoje como o maior monumento a engenharia militar portuguesa no Brasil, bem como da América Latina.
“Imensa e bem construída, essa fortificação se ajustou razoavelmente as propostas do Marques de Pombal para a região, servindo de prova efetiva e tangível de que a coroa portuguesa era a proprietária do Cabo Norte e de que qualquer pessoa que tentasse disputar a posse teria que superar esse gigantesco obstáculo antes de atingir seu objetivo”. (CASTRO, Idem, p. 136).

Fig. 3 - Antiga doca de Macapá nos anos de 1950 e a Fortaleza ao Fundo.
Pintura de R. Peixe - 1996

A Fortaleza se constitui num magnífico complexo fortificado formado por uma praça principal em forma de quadrado, tendo em seus vértices quatro baluartes pentagonais que permitia o fogo cruzado de sobre o inimigo. No seu exterior fossos secos que contornam a praça central, um revelim e as ruínas das demais estruturas de defesas construídas para dar suporte a uma das mais importantes obras da engenharia militar portuguesa edificada em suas antigas colônias.

Figs. 4 e 5 - Vista aérea da Fortaleza com o Parque do Forte ao redor (o chamado Lugar Bonito) e ao lado, a canhoneira apontando para as margens do Amazonas, com a guarita e o navio ao fundo.
Fonte: foto 4 -(Esquerda) Vista da Fortaleza - Governo do Estado do Amapá - Autor desconhecido; foto 5 - (Direita) Eloane Cantuária
Partindo do pressuposto que as construções nos contam uma parte importante das relações entre as cidades e seus habitantes, e que a vinculação entre forma e memória garante aos indivíduos a capacidade de caracterizar e atribuir qualidade ao espaço construído, ou seja, possibilita ao homem conferir identidade aos lugares (MAZIVIERO, 2008).


Figs. 6 e 7 - Vistas da Entrada da Fortaleza
Foto 6 - (Esquerda) Pintura de R. Peixe, foto 7 (Direita) José de Vasconcelos


Figs. 8 e 9 - Pinturas com temáticas da Fortaleza
Foto 8 - (Esquerda) pintura de R. Peixe, 2002; Foto 9 (Direita) pintura de Beto Peixe, sd.

Figs. 10, 11 e 12 - Temática que enfoca o baluarte e a guarita da Fortaleza
Foto 10 - (Esquerda) pintura de Herivelton, Foto 11 (Centro) pintura de Ramon David, Foto 12 (Direita) foto de José de Vasconcelos

A fortaleza São José de Macapá segue em frente atravessando dois séculos em sua vigília silenciosa sobre as margens do rio Amazonas, tornando-se ícone maior do povo amapaense e figura marcante que flameja na Bandeira do Estado do Amapá.

Figs. 13 e 14 - Foto aérea (Autor desconhecido) e a Bandeira do Amapá

Figs. 15 e 16 - Vistas internas da Fortaleza
Foto 15 - (Esquerda) pintura de R. Peixe, foto 16 (Direita) foto de José de Vasconcelos

Referências Bibliográficas:

CASTRO, Adler Homero Fonseca de. O fecho do Império: história das fortificações do Cabo Norte ao Amapá de hoje. In: GOMES, Flávio dos Santos (org.). Nas terras do Cabo Norte: fronteiras, colonização e escravidão na Guiana Brasileira (séculos XVIII-XIX). Belém: Editora Universitária-UFPA, 1999.

MAZIVIERO, Maria Carolina. Memória e espaço: Vinculações acerca da formação da identidade urbana. Disponível em: <> Acesso em 10 dez 2008.

SANTOS, Fernando Rodrigues. História do Amapá. 6 ed. Macapá: Valcan, 2001.

Por José de Vasconcelos Silva

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CULTURA E BELEZA...

Os padrões estéticos são diferentes para diversos povos e épocas. Muitas vezes o que consideramos algo bizarro e feio, para alguns povos é algo com significado especial e uma busca por outro padrão de beleza. Na África diversos povos possuem algumas práticas e costumes que podem parecer bizarros para os ocidentais. O povo Mursi, na Etiópia, costuma cortar o lábio inferior para introduzir um prato até que o lábio chegue a uma extensão máxima, costuma pôr também, no lóbulo da orelha. Ao passar dos anos, vão mudando o tamanho da placa para uma maior até que a deformação atinja um tamanho exagerado. Tais procedimentos estão associados a padrões de beleza.[...] As mulheres do povo Ndebele, em Lesedi, na África, usam pesadas argolas de metal no pescoço, pernas e braços, depois que casam. Dizem que é para não fugirem de seus maridos e nem olharem para o lado. Esse hábito também pertence as mulheres do povo Padaung, de Burma, no sudoeste da Ásia, conhecidas como “mulheres girafas”. Segundo a t...

Iluminogravuras de Ariano Suassuna

1) Fundamentos da visualidade nas imagens de Ariano Suassuna: - É herdeiro de uma visão romântica: “invenção de uma arte tipicamente nacional”. - O nordeste surge como temática privilegiada no modernismo, especialmente, após a década de 1930; - Ariano acredita que a “civilização do couro” gestou nossa identidade nacional; - Interesse por iluminuras surgiu a partir de A Pedra do Reino 2)Iluminuras Junção de Iluminuras com gravuras. É um tipo de poesia visual: une o texto literário e a imagem. Objeto artístico, remoto e atual, que alia as técnicas da iluminura medieval aos modernos processos de gravação em papel. 3) Processo de produção de iluminuras Para confeccionar o trabalho, Ariano produz, primeiro, uma matriz da ilustração e do texto manuscrito, com nanquim preto sobre papel branco. Em seguida, faz cópias da matriz em uma máquina de gráfica offset; Depois, cada cópia é trabalhada manualmente: ele colore o desenho com tintas guache, óleo e aquarela, por meio do pincel. - Letras – ba...

Analisando o desenho animado: Bob Esponja

Fonte da imagem: sapo-com.blogspot.com/2007/08/bob-esponja.html Histórico do desenho O desenho foi criado por Stephen Hillenburg, formado em ciências e biologia marinha e em desenho artístico. Para compor o seu personagem, ele começou a desenhar esponjas redondas, mas depois descobriu que as esponjas quadradas poderiam ser engraçadas, com calças quadradas e gravata. O personagem criado por ele foi então batizado de "Spongeboy", mas já havia um outro com esse nome, e tiveram que rebatizá-lo como "Spongebob". No dia 22 abril de 1999, depois do 12th Annual Kid's Choice Awards no canal por assinatura Nickelodeon, Bob Esponja bateu recordes de audiência pela primeira vez no ar com o episódio piloto "Help Wanted/Tea at the Treedome". Mas, oficialmente, dia dezessete de julho, com o segundo episódio "Bubblestand/Ripped Pants", o desenho cresceu como fenômeno, tornando-se o número um da Nickelodeon. Descrição do desenho O desenho é ambientado no cora...