Depois de uma ausência, volto para postar o Ponto e linha, nestas apressadíssimas vésperas de viagem a Salvador. Por lá, o ENEART e o encontro da ANPAP nos esperam.
Ponto e linha 10
Ricardo Veriano: estimulando o olhar crítico
O texto a seguir compõe-se de idéias de meus alunos da Disciplina Crítica de Arte, do Departamento de Artes. Referem-se à exposição “Exortação”, de Ricardo Veriano, em exibição até 27 de setembro, no Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão.
Ricardo Veriano é um versátil artista visual também dedicado à dramaturgia e à promoção cultural, tendo atuado como gestor cultural na Capitania das Artes e na Prefeitura de Patu. Ele também é professor de arte, graduado em Educação Artística, pela UFRN. Em sua exposição, trata da religiosidade, fazendo uso de vários materiais e enfoques teórico-conceituais, em que se incluem apropriações do barroco e, principalmente, aspectos estéticos do imaginário e do artesanato popular.
Sobre a instalação da exposição, colho de Josenildo Pinheiro que “logo de entrada na galeria, somos atraídos pelo excesso e brilho de cores” e pelo “odor de incenso que faz lembrar o fogo a lenha das casas de interior”. O olhar então é tomado por “altares domésticos e de estrada, montagens com gravuras de santos, metal e papelão, esculturas e projeção de um vídeo”, como resume Veríssimo de Souza.
Remissões ao popular e a memórias de infância são constantes. Isto fica bem claro em Vitória Oliveira que lembra “os oratórios, as cruzes de beira de estrada de tantas viagens quando criança, o coração de Jesus na parede, os laços de fita e os ex-votos”, imagens que podiam tanto “assustar quanto encantar”, de acordo com Souza. Este apelo popular é sutilmente reduzido em obras em que se percebem acentos de urbanidade e referências à arte modernista erudita, segundo Pinheiro. Nestas obras, o artesanato popular cede espaço para apropriações de objetos que aproximam o artista da também da arte povera, em um dos jogos de diversificação feitos no uso de materiais. A destreza com que ele manipula “madeira, metal, ferro, plástico, cera, etc.” é a mesma encontrada em trabalhos em que se usam pedras, papelão, tinta, luz, entre outros materiais. Segundo Leandro Gomes, “o fato de optar por uma variedade razoável de elementos resulta num diálogo enérgico e vivo com o público”.
Em termos da exploração temática, Marjorie Simões observa que “as obras que compõem “Exortação” não se tratam de uma arte subordinada ao dogma, devotada à propagação da fé católica. Pelo contrário. Se há na arte de Veriano um reflexo ou um apelo divino, não será no tema que precisaremos procurá-los, mas na imaginação criadora do artista e no êxito da execução”. E acrescenta que “afinal, em seus trabalhos, o artista não revela emoção, expressão mística, crença pessoal. Elas são, antes de tudo, pesquisa, discurso antropológico, resultado de um estudo visual plástico de um meio que a religião utilizou para sua propagação. É aí que Veriano se mostra como artista pesquisador, artista cientista, artista contemporâneo”.
Equilibrar forma e conteúdo é um dos méritos de Veriano que, dotado de “uma sofisticada percepção, cria uma mostra onde o que poderia ser considerado tosco, kitsch ou mal acabado, se transforma em um palco de sensações vibrantes que marcam profundamente nossa mente”, na conclusão de Souza.
Urgentíssimas
1. Nesta terça, 22, Guaraci Gabriel abre “Real: D. Quixote no Jardim das Delícias”, mais uma alucinação primaveril do artista, no Solar Bela Vista. Imperdível!
2. A exposição “Um dia na Cidade-luz”, de Marcelo Andrade, continua até esta segunda, 21, também no Solar Bela Vista. A mostra inclui-se nas comemorações no Ano Brasil-França, compondo-se de 17 imagens de Paris.
3. A Associação Nacional dos Pesquisadores em Artes Plásticas realiza seu encontro anual nesta semana, em Salvador. Chego por lá, na terça. Na quinta, Sílvio Zamboni abre exposição fotográfica na Galeria ACBEU.
4. Em paralelo, Salvador também terá o encontro dos estudantes de arte. Para tanto já saiu uma delegação bastante representativa, daqui, da UFRN. Aparecerei por lá. Quero acompanhar alguma coisa do trabalho de Andruchak com os alunos.
5. Continua até dia 25, sexta-feira, o Goiamum Audiovisual em sua terceira edição, em homenagem a Amaro Bezerra. Muita coisa acontecendo em vários pontos da cidade. Confira a programação no site goiamumaudiovisual.org.br.
6. A Casa de Apoio à Criança com Câncer, que também faz um bom trabalho de divulgação dos artistas locais, exibe obras de Higor Davily, um ex-paciente da Casa.
7. De sexta a domingo, 25 a 27, o Museu Câmara Cascudo realiza a Primavera dos Museus 2009. Vasta programação, muitas flores e cultura popular.
8. Flávio Freitas assina estamparias para a grife Myosotis, em sua Campanha Verão 2009. São figuras femininas em feérico colorido que celebra a luz de Natal.
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