A exposição de Rolim, “A industrialização do Santo Cristo”, em cartaz até dia 21, na Capitania das Artes, é algo a ser conferido. Desenvolvidas a partir de uma matriz construtiva, as séries de desenhos a nanquim sobre cartão estabelecem um interessante equilíbrio entre figuração e abstração. O esforço figurativo, com base na construção geométrica a instrumentos, remete à noção primordial que levou Picasso e Braque a desenvolverem o cubismo, tendo declarações de Cézanne como fios condutores. É verdade que Rolim, não obstante o obsessivo exercício de elaboração da mostra – ele desenvolveu centenas de desenhos dos quais foram selecionados trinta, mostra uma ingenuidade figurativa que certamente não se encontra no trabalho dos pais do cubismo, mesmo que eles quisessem. Tal ingenuidade não compromete a obra, porém, dado que a variedade de achados formais, compositivos em particular, surpreende a cada desenho. Por outro lado, certas peças articulam soluções maduras, como na série “Processo industrial do sangue”, lembrando (muito) obras gráficas de Picabia. Nesta série, que representa maquinismos semelhantes a apetrechos laboratoriais de física ou química, e em alguns outros desenhos, o olhar é levado a “reconhecer” elementos de figuração e, com isto, fazer o observador aproximar-se do complexo jogo conceitual que orientou a criação da obra.
Rolim procura fazer conjeturas “frias” (geométricas) sobre questões da religiosidade cristã por meio de abordagens de temas que vão de personagens (Cristo, Maria Madalena – veja a imagem desta última) aos mitos (Santo Graal) e até às projeções encontradas no “Processo industrial do sangue” ou no emblemático “Soldado americano”, este que “atualiza” o soldado romano. No percurso, o artista pode deixar entrever convicções e dúvidas relacionadas à sua própria relação com a mitologia cristã, assim como suas censuras ao catolicismo e ao protestantismo mercantilizados. Na verdade e ao fundo, trata-se de uma espécie de luteranismo reeditado e ampliado à luz da contemporaneidade.
Como disse, a relação entre tratamento artístico e substrato conceitual se organiza ou se desorganiza segundo uma complexidade cuja ausência de linearidade dificulta uma apreensão estável. É possível, entretanto, sintetizar a coisa como uma reflexão sobre como a fé religiosa tem sofrido mutações em direção a uma hipocrisia mercadológica. Acima deste imbróglio hagiográfico, salva-se muito bem o esmerado trabalho gráfico do artista. Isto significa que o discurso verbal em torno da temática perde definitivamente o seu significado diante do conteúdo formal da obra, esta que confirma ou dá continuidade à pesquisa construtiva desenvolvida por Rolim.
Ponto e linha
Continua em exibição no Natal Shopping (sala ao lado da C&A) a exposição Dorian Gray: o operário que ama, numa promoção do SESC-RN. A exposição, que fica naquele espaço até dia 17, será levada posteriormente a Mossoró e Caicó.
A artista paulistana Evelyn Gumiel, há pouco residindo em Natal, fará individual a partir do dia 15, quarta-feira próxima, na galeria do teatro de cultura popular. A exposição constará de trabalhos em aquarela e giz de cera sobre cartão, caracterizados por vigorosa gestualidade.
Guaraci Gabriel, Afonso Martins, Marcelo Amarelo, Francisco Gileno, Jean Sartief, Júlio Castro e Wendell Gabriel compõem grupo de artistas que mostram trabalhos na Bienal de Havan, aberta no último dia 27. Os trabalhos em fotografia, pintura e instalações discutem o tema identidade.
O NAC tem inscrições abertas para oficinas de técnicas mistas que serão ministradas pelo artista Isaías Ribeiro e começam na sexta, dia 17. O NAC também convoca artistas e grupos artísticos a atenderem ao edital para seleção de mostras que ocuparão a Galeria Conviv’art, em 2009. O edital está disponível em www.nac.ufrn.br.
Vicente Vitoriano
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