A idéia de fazer esse ensaio surgiu quando, em sala de aula, um dos meus alunos depois da análise de uma obra contemporânea questionou-me a respeito da intenção do artista e do seu processo criativo. Rapidamente, a velha discussão dos parâmetros e limites que determinam o conceito de arte iniciou-se e, a polêmica sobre a importância da produção artística contemporânea tomou conta da aula.
A primeira coisa que me veio à mente foi colocar para os alunos que arte reflete em sua forma a maneira de pensar de sua época. E utilizando-me das palavras de Borges (2008) afirmei que a arte produzida no nosso tempo, nada mais faz do que traduzir uma sociedade em constante transformação “onde muitos padrões estão sendo questionados, onde somos bombardeados todos os dias com uma gama enorme de informação”. Por isso a dificuldade de analisá-la, bem diferente de falar do renascimento, barroco, dentre outros que já possuem um conhecimento sistematizado e um distanciamento histórico.
Além disso, Santos (1995) em seus estudos afirma que a pós-modernidade (ou contemporaneidade) é um ecletismo, uma mistura de várias tendências e estilos sob o mesmo nome. “Ela não tem unidade; é aberta, plural e muda de aspecto se passamos da tecnociência para as artes plásticas, da sociedade para a filosofia.”
Dessa forma, vivendo num mundo complexo e controverso em seus conceitos, é preciso compreender que a produção artística também refletirá, discutirá e questionará o seu tempo. É fácil então, compreender porque os artistas buscam em suas obras de arte códigos cada vez mais individualizados. Santos (Idem) esclarece que “seja qual for o estilo, a arte pós-moderna vai se apoiar nos objetos (não no homem), na matéria (não no espírito), no momento (não no eterno), no riso (não no sério)”. Assim, quando nos referimos ao código da obra de arte contemporânea, estamos nos referindo a um fenômeno complexo e fragmentado que alguns teóricos chamam de antiarte pós-moderna, e que põe fim a beleza, a forma e ao valor supremo da arte.
Estas características estão visivelmente presentes nas obras contemporâneas quando elas privilegiam a idéia, a pesquisa, o processo de criação em detrimento “do saber fazer” (Coli, 1995). Dessa forma, o público é convidado a participar, interagir corporalmente e sensorialmente com o trabalho, no qual podemos destacar a produção de Hélio Oiticica e Ligia Clark. Essa visão destoa totalmente dos padrões estéticos do pensamento clássico, onde o artista era criador e executor do trabalho, cabendo ao público apenas uma contemplação fria e intelectual; quem não se lembra dos famosos lembretes em nossas galerias e museus, “por favor não tocar nas obras” ou “favor respeitar a distância permitida” ou coisa parecida.
Outro aspecto que chama a atenção na arte contemporânea e que também provoca um estranhamento do grande público é a utilização de materiais não nobres e efêmeros, particularidade da arte que surgiu com os ready-mades duchampianos que buscavam, naquele momento, através do espírito dadaísta criticar o estatuto da arte e o valor do objeto artístico. No entanto, o que aconteceu inicialmente como uma crítica, hoje influencia toda produção contemporânea, que tenta se aproximar do público questionando a relação entre a arte erudita e a arte popular. Essa singularidade do banal está presente na arte conceitual, na arte pobre, no neo-dadaismo, na arte terra, na arte paisagem, na arte corporal, dentre outras.
Ao terminar essa breve explanação aos alunos, comungando com as idéias de Borges (idem) expliquei que a grande dificuldade da arte contemporânea é que ela é uma fusão de tudo que já foi feito e experimentado e ao mesmo tempo é algo que tem que ser novo. E devido a tudo isso, pode ocorrer que alguns desses trabalhos corram o risco de cair na criação de pastiches descartáveis, vazios, cópias ou imitações de outros estilos. Mas, mesmo assim, é preciso compreender que “A arte pode ser ruim, boa ou indiferente, mas qualquer que seja o adjetivo empregado, temos de chamá-la de arte. A arte ruim é arte, do mesmo modo como uma emoção ruim é uma emoção”. (René Duchamp).
Assim, com base em todo o contexto aqui explanado, é necessário perceber que o surgimento da anti-arte contemporânea é um novo paradigma no universo da arte e que este está relacionado diretamente com o nosso mundo pós-moderno, repleto de inovações tecnológicas e científicas, transformações sociais, filosóficas, de consumo, etc. Entender a arte do nosso tempo é conviver com os antigos parâmetros estéticos e buscar produzir algo que não vem evidentemente do nada, mas que, tem a responsabilidade de ser novo (Dufrenne, 1982).
Finalizando, acredito que um dos caminhos para se entender a arte do nosso tempo, ambígua e questionadora é perceber que esta arte se instala em nosso meio por todo um aparato cultural que envolve os objetos artísticos, como o discurso, o local, a atitude de admiração, o tempo, etc., que nos permite um direcionamento para esse novo modelo estético (Coli, 1995). Outro caminho aponta para a familiarização cultural defendida por Forquin (1982), pois “o contato direto com as obras, sua freqüentação regular e intensa, são o principal e o melhor caminho de sensibilização, o único verdadeiro meio e acesso ao domínio dos códigos, o alimento por excelência do sentimento de familiaridade”.
BORGES, Gilberto André. Arte contemporânea. Sd. Disponível em:. Acesso em: 28 nov. 2008.
COLI, Jorge. O Que é Arte? São Paulo: Editora Brasiliense, 1995.
FORQUIN, Jean-Claude. A Educação Artística – para quê? In: PORCHER, Louis. Educação artística: luxo ou necessidade? São Paulo: Summus, 1982.
DUFRENNE, Mikel. A estética e as ciências da arte – 2ª parte. (o estudo actual dos principais problemas estéticos e das diferentes artes). Lisboa: Livraria Bertrand, 1982.
SANTOS, Jair Ferreira dos. O que é pós-modernismo. São Paulo: Brasiliense, 1980.
A primeira coisa que me veio à mente foi colocar para os alunos que arte reflete em sua forma a maneira de pensar de sua época. E utilizando-me das palavras de Borges (2008) afirmei que a arte produzida no nosso tempo, nada mais faz do que traduzir uma sociedade em constante transformação “onde muitos padrões estão sendo questionados, onde somos bombardeados todos os dias com uma gama enorme de informação”. Por isso a dificuldade de analisá-la, bem diferente de falar do renascimento, barroco, dentre outros que já possuem um conhecimento sistematizado e um distanciamento histórico.
Além disso, Santos (1995) em seus estudos afirma que a pós-modernidade (ou contemporaneidade) é um ecletismo, uma mistura de várias tendências e estilos sob o mesmo nome. “Ela não tem unidade; é aberta, plural e muda de aspecto se passamos da tecnociência para as artes plásticas, da sociedade para a filosofia.”
Dessa forma, vivendo num mundo complexo e controverso em seus conceitos, é preciso compreender que a produção artística também refletirá, discutirá e questionará o seu tempo. É fácil então, compreender porque os artistas buscam em suas obras de arte códigos cada vez mais individualizados. Santos (Idem) esclarece que “seja qual for o estilo, a arte pós-moderna vai se apoiar nos objetos (não no homem), na matéria (não no espírito), no momento (não no eterno), no riso (não no sério)”. Assim, quando nos referimos ao código da obra de arte contemporânea, estamos nos referindo a um fenômeno complexo e fragmentado que alguns teóricos chamam de antiarte pós-moderna, e que põe fim a beleza, a forma e ao valor supremo da arte.
Estas características estão visivelmente presentes nas obras contemporâneas quando elas privilegiam a idéia, a pesquisa, o processo de criação em detrimento “do saber fazer” (Coli, 1995). Dessa forma, o público é convidado a participar, interagir corporalmente e sensorialmente com o trabalho, no qual podemos destacar a produção de Hélio Oiticica e Ligia Clark. Essa visão destoa totalmente dos padrões estéticos do pensamento clássico, onde o artista era criador e executor do trabalho, cabendo ao público apenas uma contemplação fria e intelectual; quem não se lembra dos famosos lembretes em nossas galerias e museus, “por favor não tocar nas obras” ou “favor respeitar a distância permitida” ou coisa parecida.
Outro aspecto que chama a atenção na arte contemporânea e que também provoca um estranhamento do grande público é a utilização de materiais não nobres e efêmeros, particularidade da arte que surgiu com os ready-mades duchampianos que buscavam, naquele momento, através do espírito dadaísta criticar o estatuto da arte e o valor do objeto artístico. No entanto, o que aconteceu inicialmente como uma crítica, hoje influencia toda produção contemporânea, que tenta se aproximar do público questionando a relação entre a arte erudita e a arte popular. Essa singularidade do banal está presente na arte conceitual, na arte pobre, no neo-dadaismo, na arte terra, na arte paisagem, na arte corporal, dentre outras.
Ao terminar essa breve explanação aos alunos, comungando com as idéias de Borges (idem) expliquei que a grande dificuldade da arte contemporânea é que ela é uma fusão de tudo que já foi feito e experimentado e ao mesmo tempo é algo que tem que ser novo. E devido a tudo isso, pode ocorrer que alguns desses trabalhos corram o risco de cair na criação de pastiches descartáveis, vazios, cópias ou imitações de outros estilos. Mas, mesmo assim, é preciso compreender que “A arte pode ser ruim, boa ou indiferente, mas qualquer que seja o adjetivo empregado, temos de chamá-la de arte. A arte ruim é arte, do mesmo modo como uma emoção ruim é uma emoção”. (René Duchamp).
Assim, com base em todo o contexto aqui explanado, é necessário perceber que o surgimento da anti-arte contemporânea é um novo paradigma no universo da arte e que este está relacionado diretamente com o nosso mundo pós-moderno, repleto de inovações tecnológicas e científicas, transformações sociais, filosóficas, de consumo, etc. Entender a arte do nosso tempo é conviver com os antigos parâmetros estéticos e buscar produzir algo que não vem evidentemente do nada, mas que, tem a responsabilidade de ser novo (Dufrenne, 1982).
Finalizando, acredito que um dos caminhos para se entender a arte do nosso tempo, ambígua e questionadora é perceber que esta arte se instala em nosso meio por todo um aparato cultural que envolve os objetos artísticos, como o discurso, o local, a atitude de admiração, o tempo, etc., que nos permite um direcionamento para esse novo modelo estético (Coli, 1995). Outro caminho aponta para a familiarização cultural defendida por Forquin (1982), pois “o contato direto com as obras, sua freqüentação regular e intensa, são o principal e o melhor caminho de sensibilização, o único verdadeiro meio e acesso ao domínio dos códigos, o alimento por excelência do sentimento de familiaridade”.
BORGES, Gilberto André. Arte contemporânea. Sd. Disponível em:
COLI, Jorge. O Que é Arte? São Paulo: Editora Brasiliense, 1995.
FORQUIN, Jean-Claude. A Educação Artística – para quê? In: PORCHER, Louis. Educação artística: luxo ou necessidade? São Paulo: Summus, 1982.
DUFRENNE, Mikel. A estética e as ciências da arte – 2ª parte. (o estudo actual dos principais problemas estéticos e das diferentes artes). Lisboa: Livraria Bertrand, 1982.
SANTOS, Jair Ferreira dos. O que é pós-modernismo. São Paulo: Brasiliense, 1980.
Um abraço a todos e, espero contribuir a discussão sobre o ensino de arte visuais.
(José de Vasconcelos Silva)
Comentários
Abraços,
Erinaldo