Pular para o conteúdo principal

Salões IV: os híbridos




Salões IV: os híbridos
(Publicado na Coluna Artes Plásticas, Caderno Muito do Diário de Natal, em 18.12.08)

Sim! Além de muita fotografia, desenhos premiados e alguma pintura, o XII Salão de Artes Visuais da Cidade do Natal e o II Salão Abraham Palatnik de Artes Visuais, em cartaz na Capitania das Artes e na Biblioteca Pública Câmara Cascudo, respectivamente, também apresentam o que se convencionou chamar de obras híbridas. Ou sejam, são obras em que se usam materiais diversos, categorias artísticas múltiplas e tecnologias de níveis diferenciados. Tais obras podem caracterizar-se por não permitirem uma categorização precisa e nelas se incluem objetos, peças em técnicas e meios mistos, performances, instalações, entre outros tipos. Em última instância, certas obras videográficas podem entrar neste rol.
Os Salões, no entanto, não são tão pródigos neste tipo de manifestação. Entre as poucas encontradas, eu destacaria, em primeiro lugar, o objeto criado pelo artista Alexandre Gurgel, selecionado para o Salão da Cidade. Infelizmente não sei o título... Que falta faz um catálogo! Trata-se de uma maleta que contém um conjunto de sabonetes ou de objetos com a forma de sabonetes de glicerina nos que o artista incrustou uma variedade de outros objetos cortantes ou de furar e rasgar. Veja a imagem. Jogando com o conceito de função, Gurgel anula o uso convencional do sabonete - objeto em si triplamente estético (atinge a visão, o olfato e o tato), transformando-o em escarificador, o que pode ser entendido como uma metáfora para a própria arte em sua função de instigar. Esta é uma das coisas inteligentes nos dois Salões.
Wendel Gabriel, no Abraham Palatnik, mostra um carrinho parecido com os de pipoqueiro e ainda lembra uma daquelas luminárias que projetam figurinhas que se movem. A propósito do próprio Salão, o artista faz uma referência aos objetos cinecromáticos de Palatnik, acrescentando-lhes texto verbal e música. No entanto, o acabamento tosco do objeto, mesmo aparentemente intencional, reduz a apreciação.
Por fim, e ainda no Abraham Palatnik, quero me referir ao objeto “Transparência”, de Álvaro Pereira. Mesmo mal posicionado na exposição, o objeto, uma dupla “tela” de plástico transparente, contendo uma outra peça de plástico do mesmo azul, remete mais aos vitrais do que a uma tela convencional de se apor em paredes. É, certamente, uma coisa bonita e, em sua abstração, pode ser associada a certos experimentos modernistas de caráter estritamente estético.
À parte o comentado, vale mencionar – mas poderia render um outro texto, os trabalhos infográficos, como os excelentes exercícios de Leandro Garcia e Mariana Zulianelli, ou, ainda, as assemblages de Ricardo Rodrigues (não expostas) e de Vilela.

Vicente Vitoriano

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CULTURA E BELEZA...

Os padrões estéticos são diferentes para diversos povos e épocas. Muitas vezes o que consideramos algo bizarro e feio, para alguns povos é algo com significado especial e uma busca por outro padrão de beleza. Na África diversos povos possuem algumas práticas e costumes que podem parecer bizarros para os ocidentais. O povo Mursi, na Etiópia, costuma cortar o lábio inferior para introduzir um prato até que o lábio chegue a uma extensão máxima, costuma pôr também, no lóbulo da orelha. Ao passar dos anos, vão mudando o tamanho da placa para uma maior até que a deformação atinja um tamanho exagerado. Tais procedimentos estão associados a padrões de beleza.[...] As mulheres do povo Ndebele, em Lesedi, na África, usam pesadas argolas de metal no pescoço, pernas e braços, depois que casam. Dizem que é para não fugirem de seus maridos e nem olharem para o lado. Esse hábito também pertence as mulheres do povo Padaung, de Burma, no sudoeste da Ásia, conhecidas como “mulheres girafas”. Segundo a t

Iluminogravuras de Ariano Suassuna

1) Fundamentos da visualidade nas imagens de Ariano Suassuna: - É herdeiro de uma visão romântica: “invenção de uma arte tipicamente nacional”. - O nordeste surge como temática privilegiada no modernismo, especialmente, após a década de 1930; - Ariano acredita que a “civilização do couro” gestou nossa identidade nacional; - Interesse por iluminuras surgiu a partir de A Pedra do Reino 2)Iluminuras Junção de Iluminuras com gravuras. É um tipo de poesia visual: une o texto literário e a imagem. Objeto artístico, remoto e atual, que alia as técnicas da iluminura medieval aos modernos processos de gravação em papel. 3) Processo de produção de iluminuras Para confeccionar o trabalho, Ariano produz, primeiro, uma matriz da ilustração e do texto manuscrito, com nanquim preto sobre papel branco. Em seguida, faz cópias da matriz em uma máquina de gráfica offset; Depois, cada cópia é trabalhada manualmente: ele colore o desenho com tintas guache, óleo e aquarela, por meio do pincel. - Letras – ba

RCNEI - Resumo Artes Visuais

Introdução: As Artes Visuais expressam, comunicam e atribuem sentidos a sensações, sentimentos, pensamentos e realidade por vários meios, dentre eles; linhas formas, pontos, etc. As Artes Visuais estão presentes no dia-a-dia da criança, de formas bem simples como: rabiscar e desenhar no chão, na areia, em muros, sendo feitos com os materiais mais diversos, que podem ser encontrados por acaso. Artes Visuais são linguagens, por isso é uma forma muito importante de expressão e comunicação humanas, isto justifica sua presença na educação infantil. Presença das Artes Visuais na Educação Infantil: Idéias e práticas correntes. A presença das Artes Visuais na Educação Infantil, com o tempo, mostra o desencontro entre teoria e a prática. Em muitas propostas as Artes Visuais são vistas como passatempos sem significado, ou como uma prática meramente decorativa, que pode vir a ser utilizada como reforço de aprendizagem em vários conteúdos. Porém pesquisas desenvolvidas em diferentes campos das ciê