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Quando o adeus às ilusões leva à criação

Em suas fotos, Wang Qingsong critica a rápida ocidentalização de seu país

Cláudia Trevisan, PEQUIM

De operário modelo de poços de petróleo nos anos 80 a artista plástico consagrado internacionalmente, Wang Qingsong é um dos melhores exemplos do diálogo entre história e arte que marca grande parte da produção contemporânea da China, da qual os brasileiros poderão ter uma mostra a partir de amanhã no Museu de Arte de São Paulo (Masp).

China: Construção/Reconstrução reúne obras de 16 artistas, imersos no desafio de interpretar uma realidade que muda de maneira vertiginosa desde o fim dos anos 70, quando a China abandonou décadas de isolamento e embarcou em um rápido processo de abertura e reforma econômica.

Todos os participantes da exposição têm mais de 30 anos e a maioria nasceu em uma China que vivia imersa no culto a Mao Tsé-tung. O consumo atendia apenas a necessidades básicas, o guarda-roupa de todos apresentava poucas variações e a atividade econômica era totalmente controlada pelo Estado.

Hoje, os ricos consomem Louis Vuitton e BMW e lojas do McDonald?s e KFC estão espalhadas por todo o país. Apesar do inegável sucesso econômico da receita chinesa, muitos dos artistas experimentam um sentimento de desilusão e desconforto diante de um mundo no qual não há espaço para sonhos voluntaristas.

"Na minha infância, eu queria ser soldado, porque a China enfrentava invasões estrangeiras. Quando comecei a trabalhar, eu queria ser cientista, para fazer algo importante para o país", lembra Wang Qingsong, que vai expor duas obras no Masp. O artista nasceu em 1967, no início da Revolução Cultural (1966-1976), que foi marcada pela promoção da arte engajada e por inúmeras campanhas ideológicas promovidas por Mao Tsé-tung. "No início dos anos 80, todo mundo era idealista e queria contribuir para o país."

O adeus às ilusões levou Wang Qingsong para o mundo artístico e hoje ele retrata os conflitos e contradições da sociedade chinesa em representações teatrais registradas em fotografias. De maneira geral, os trabalhos são marcados pela crítica ao consumismo e à rápida ocidentalização do país.

A Esperança Gloriosa é um de seus trabalhos que serão apresentados em São Paulo. A imagem mostra um cenário desolado, no centro do qual um pequeno grupo de despossuídos contempla o sol nascente à frente dos anéis olímpicos escavados em um charco no chão.

Além de fotos, a exposição terá pinturas, instalações e performances. Li Guo Sheng, dono da galeria Chinablue, que organizou a mostra, afirma que ela terá a participação de artistas consagrados internacionalmente, de outros que começam a se projetar fora da China e de jovens ainda desconhecidos.

Além de Wang Qingsong, outras estrelas serão Ai Wei Wei, He Yunchang, Yin Zhaoyang, Zhou Wenzhong e Zhou Xiaohu. Segundo Li Guo Sheng, o objetivo é apresentar a China como um país em desenvolvimento, imerso em rápida transformação e no qual a arte também vem sendo construída.

O pintor Zhou Wenzhong, de 34 abos, terá cinco obras em exibição e estará em São Paulo nesta semana junto com outros dois artistas que também participam da mostra, Chen Bo, de 35 anos, e Xiong Yu, de 33.

Como Wang Qingsong, Zhou Wenzhong reflete em sua arte: "Na escola eu tinha altos ideais, mas minhas aspirações e sonhos se confrontaram com a realidade. A arte é uma maneira de escapar do sentimento de frustração."


Diposnível em: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20081117/not_imp278653,0.php

Karlene Braga

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