O curso de artes plásticas oferecido pela Universidade Federal da Paraíba é em nível de licenciatura, ou seja, tem o objetivo de formar arte-educadores, professores de arte
Ao analisar - mesmo que superficialmente - sobre a origem e a formação da atual geração de artistas plásticos em nossa cidade pode-se chegar a conclusões que muito bem serviriam de parâmetro para ações governamentais da área cultural. Primeiro, que estes, em sua maioria, nasceram (e se criaram) na Capital. Bem diferente dos artistas dos anos 80 que são oriundos de cidades do interior do Estado. Depois, todos, com raras exceções, tiveram uma formação autodidata. Isso, por si só, serve para afirmar a falta de escolas técnicas de nível médio ou superior e especialmente dedicadas às artes plásticas. Observemos que o curso de artes plásticas oferecido pela Universidade Federal da Paraíba é em nível de licenciatura, ou seja, tem o objetivo de formar arte-educadores, professores de arte. Aliás, a formação do artista é algo ainda pouco discutido no Brasil. A maior parte dos debates em arte-educação parece concentrar-se no ensino das artes na escola fundamental e média ou na mediação do trabalho artístico para o público leigo. E mais, o sistema de ensino de arte na universidade tem como modelo os parâmetros que vem de outras áreas de maior tradição universitária e, pior, sempre está restrito ao ambiente interno das universidades.
Aqui, no nosso caso, mesmo muitos dos artistas terem curso universitário, nem sempre estes cursos se restringem à faculdade de artes (ou similar). Daí, ser muito comum a procura por cursos livres (ou ateliês coletivos, workshops, oficinas etc.) pelos artistas em formação como forma de complementação de seu aprendizado. A busca de uma maior intimidade com o meio artístico e um ambiente mais informal para a troca de idéias é normalmente a causa deste processo.
Embora a participação de artistas plásticos atuantes como professores universitários tenha crescido, a maioria dos alunos ainda se encontra distante do que acontece no meio artístico por falta de estímulo dos professores ou por sua própria falta de interesse. Mas, de fato, não se pode exigir que uma faculdade, por melhor que seja, garanta a formação de bons artistas, já que a competência artística não se limita ao domínio de determinadas técnicas e habilidades, mas depende de uma capacidade individual e uma motivação interna que geralmente são inatas. Desenvolver essa capacidade, aprimorar sua consciência crítica, disponibilizar recursos práticos e teóricos para a criação e discussão do trabalho de arte e aproximar o aluno do meio artístico são, porém, papéis da universidade.
Será que a formação na área de artes não deveria seguir outros parâmetros acadêmicos? Quando nos acostumamos a um modelo de ensino, temos a impressão de que este é o único possível. O que acontece em outros países?
No sistema alemão, a liberdade do aluno de artes é o que mais chama a atenção. Não há uma carga horária semanal pré-fixada e a possibilidade de escolher uma disciplina é muito maior do que no Brasil. Existe uma maior oferta de disciplinas e professores e o aluno pode escolher livremente, independente do semestre que esteja cursando. O que se privilegia é a produção do aluno como artista e não tanto o seu comparecimento às aulas específicas. Para obter o crédito da disciplina o aluno deve escrever um relatório sobre as aulas freqüentadas ou desenvolver uma monografia, conforme a disciplina. Sem falar que tudo é acompanhado por um professor-artista. Após o primeiro semestre, o aluno deve encaminhar-se a uma "Klasse" liderada por um professor orientador e, mais, isso vai dar direito ao aluno de ter um espaço na faculdade para desenvolver seu trabalho. A intimidade que daí nasce assemelha-se à relação entre os alunos brasileiros que freqüentam os cursos livres ou ateliês de artistas. A motivação é um anseio do aluno em se tornar um artista, e não necessariamente em cumprir uma carga horária e finalizar um curso. Esta independência gera uma maior necessidade de disciplina e determinação, aproximando o aluno do que será sua vida futura como artista, quando ele terá que desenvolver seu trabalho por si só e "correr atrás" de exposições, patrocínios e formas de subsistência. O ideal, no entanto, seria que o aluno fosse em busca de vários professores-artistas-orientadores para receber uma visão mais ampla da arte. Isso poderia contribuir para que tivéssemos ao final do curso menos bacharéis e mais artistas.
Na Paraíba - é digno de registro -, os mais proeminentes artistas desta atual geração (anos 90) se forjaram em eventos como o Fenart - Festival Nacional de Arte (Governo do Estado), o SAMAP - Salão Municipal de João Pessoa (Prefeitura de João Pessoa), o CAVT - Centro de Artes Visuais Tambiá e as ações do intercâmbio Laboratório (Suíça-França-Brasil, coordenado pela Ong REDE), citando também a boa programação do Projeto Artes Visuais (Centro Cultural São Francisco) e da Galeria Archidy Picado (Governo do Estado) como referência para a complementação da formação. O NAC-Núcleo de Arte Contemporânea (UFPB) teve seus momentos de glória quando surgiu (1979-84) e em uma ou outra ação em meados dos anos 90, mas, agora já anuncia novas idéias em sua programação.
Dyógenes Chaves, Artista visual e crítico de arte (ABCA)
Fonte: http://jornal.onorte.com.br/terca/diogenes/
(Erinaldo Alves)
Ao analisar - mesmo que superficialmente - sobre a origem e a formação da atual geração de artistas plásticos em nossa cidade pode-se chegar a conclusões que muito bem serviriam de parâmetro para ações governamentais da área cultural. Primeiro, que estes, em sua maioria, nasceram (e se criaram) na Capital. Bem diferente dos artistas dos anos 80 que são oriundos de cidades do interior do Estado. Depois, todos, com raras exceções, tiveram uma formação autodidata. Isso, por si só, serve para afirmar a falta de escolas técnicas de nível médio ou superior e especialmente dedicadas às artes plásticas. Observemos que o curso de artes plásticas oferecido pela Universidade Federal da Paraíba é em nível de licenciatura, ou seja, tem o objetivo de formar arte-educadores, professores de arte. Aliás, a formação do artista é algo ainda pouco discutido no Brasil. A maior parte dos debates em arte-educação parece concentrar-se no ensino das artes na escola fundamental e média ou na mediação do trabalho artístico para o público leigo. E mais, o sistema de ensino de arte na universidade tem como modelo os parâmetros que vem de outras áreas de maior tradição universitária e, pior, sempre está restrito ao ambiente interno das universidades.
Aqui, no nosso caso, mesmo muitos dos artistas terem curso universitário, nem sempre estes cursos se restringem à faculdade de artes (ou similar). Daí, ser muito comum a procura por cursos livres (ou ateliês coletivos, workshops, oficinas etc.) pelos artistas em formação como forma de complementação de seu aprendizado. A busca de uma maior intimidade com o meio artístico e um ambiente mais informal para a troca de idéias é normalmente a causa deste processo.
Embora a participação de artistas plásticos atuantes como professores universitários tenha crescido, a maioria dos alunos ainda se encontra distante do que acontece no meio artístico por falta de estímulo dos professores ou por sua própria falta de interesse. Mas, de fato, não se pode exigir que uma faculdade, por melhor que seja, garanta a formação de bons artistas, já que a competência artística não se limita ao domínio de determinadas técnicas e habilidades, mas depende de uma capacidade individual e uma motivação interna que geralmente são inatas. Desenvolver essa capacidade, aprimorar sua consciência crítica, disponibilizar recursos práticos e teóricos para a criação e discussão do trabalho de arte e aproximar o aluno do meio artístico são, porém, papéis da universidade.
Será que a formação na área de artes não deveria seguir outros parâmetros acadêmicos? Quando nos acostumamos a um modelo de ensino, temos a impressão de que este é o único possível. O que acontece em outros países?
No sistema alemão, a liberdade do aluno de artes é o que mais chama a atenção. Não há uma carga horária semanal pré-fixada e a possibilidade de escolher uma disciplina é muito maior do que no Brasil. Existe uma maior oferta de disciplinas e professores e o aluno pode escolher livremente, independente do semestre que esteja cursando. O que se privilegia é a produção do aluno como artista e não tanto o seu comparecimento às aulas específicas. Para obter o crédito da disciplina o aluno deve escrever um relatório sobre as aulas freqüentadas ou desenvolver uma monografia, conforme a disciplina. Sem falar que tudo é acompanhado por um professor-artista. Após o primeiro semestre, o aluno deve encaminhar-se a uma "Klasse" liderada por um professor orientador e, mais, isso vai dar direito ao aluno de ter um espaço na faculdade para desenvolver seu trabalho. A intimidade que daí nasce assemelha-se à relação entre os alunos brasileiros que freqüentam os cursos livres ou ateliês de artistas. A motivação é um anseio do aluno em se tornar um artista, e não necessariamente em cumprir uma carga horária e finalizar um curso. Esta independência gera uma maior necessidade de disciplina e determinação, aproximando o aluno do que será sua vida futura como artista, quando ele terá que desenvolver seu trabalho por si só e "correr atrás" de exposições, patrocínios e formas de subsistência. O ideal, no entanto, seria que o aluno fosse em busca de vários professores-artistas-orientadores para receber uma visão mais ampla da arte. Isso poderia contribuir para que tivéssemos ao final do curso menos bacharéis e mais artistas.
Na Paraíba - é digno de registro -, os mais proeminentes artistas desta atual geração (anos 90) se forjaram em eventos como o Fenart - Festival Nacional de Arte (Governo do Estado), o SAMAP - Salão Municipal de João Pessoa (Prefeitura de João Pessoa), o CAVT - Centro de Artes Visuais Tambiá e as ações do intercâmbio Laboratório (Suíça-França-Brasil, coordenado pela Ong REDE), citando também a boa programação do Projeto Artes Visuais (Centro Cultural São Francisco) e da Galeria Archidy Picado (Governo do Estado) como referência para a complementação da formação. O NAC-Núcleo de Arte Contemporânea (UFPB) teve seus momentos de glória quando surgiu (1979-84) e em uma ou outra ação em meados dos anos 90, mas, agora já anuncia novas idéias em sua programação.
Dyógenes Chaves, Artista visual e crítico de arte (ABCA)
Fonte: http://jornal.onorte.com.br/terca/diogenes/
(Erinaldo Alves)
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