Segue adiante um artigo, de minha autoria, publicado no Jornal da Paraíba, no dia 30.06.2008. Além da postagem feita aqui no blog, tentei ecoar minha voz em outros canais.
Tive o privilégio de ler, ainda adolescente, os romances de José Lins do Rego. Suas páginas povoaram a minha mente com imagens de Pilar e do Engenho Corredor, o “Santa Rosa”. Recentemente, confrontei a imaginação com a observação ao participar de uma “expedição fotográfica à cidade de Pilar/PB”, programação do “ano cultural José Lins do Rego” - promovida pela Secretaria de Educação do Município de João Pessoa.
A cidade de Pilar, fundada em 1885, é uma testemunha dos romances de Zé Lins. A avenida principal homenageia o coronel José Lins Cavalcanti de Albuquerque, o velho Zé Paulino. Em uma extremidade da avenida está a Igreja do Carmo, com sua torre apontada para o céu. Na outra, um prédio colonial, conhecido como “Casa de Câmara e Cadeia”, local da Fundação Menino de Engenho. No térreo, ficava a cadeia, local onde o menino Zé Lins, alimentava os presos ou acompanhava o avô, o velho Paulino. No primeiro andar, funcionava a Câmara da Intendência, Poder Executivo da época. A avenida é divida por canteiros iluminados por postes esverdeados que lembram o estilo art déco. Nas laterais, encontram-se diversas residências e prédios comerciais em estilo eclético.
Se a cidade evoca momentos de beleza, a indignação e o choque ocorrem quando se chega ao Engenho Corredor. O imponente e instigante engenho dos relatos de Zé Lins está ameaçado de desabamento, transformado em escombros, em abrigo de maribondos e morcegos, com várias pichações no seu interior.
O governo federal, via o Ministério da Cultura, vem incentivando a criação de museus e bibliotecas. Há várias linhas de financiamentos, facilmente localizadas no site do referido ministério. É preciso impedir que o conjunto arquitetônico do Engenho Corredor, tombado por meio do Decreto Estadual nº. 20.137, de 02.12.2008, desmorone.
O Ministério Público Federal formalizou, em 2007, uma ação ajuizada com o objetivo de garantir a recuperação e a preservação do Engenho Corredor, tendo como réus os proprietários, que especulam com a destruição do patrimônio cultural, o governo do Estado e o Iphaep, omissos ao assistirem passivamente à destruição.
O Engenho Corredor é um importante exemplo do que fazemos com a nossa memória e o nosso patrimônio cultural: deixamos que vá ruindo até desaparecer, quer seja por uma restrita visão comercial ou por uma simples omissão governamental.
A Paraíba está fazendo com a memória de Zé Lins, o contrário do que faz a cidade de Granada, no sul da Espanha, com a memória do poeta Frederico Garcia Lorca. A casa da família Lorca, onde viveu o poeta de 1926 até o início da Guerra Civil espanhola, em 1936, está preservada, com o mobiliário da época. Integra um importante roteiro turístico e cultural, da bela cidade espanhola de Granada.
O governo do Estado quer fortalecer o turismo para criar empregos na Paraíba. Isso só é possível enaltecendo o que a Paraíba tem de singular e importante. A obra de Zé Lins é conhecida nacional e internacionalmente. Pilar e o Engenho Corredor são testemunhos da história cultura do Brasil e da Paraíba. As ruínas clamam por ação política. É preciso protestar para que a cidadania cultural, relacionada com o universo literário de Zé Lins, não possa ser obstruída. Viva a memória do Engenho Corredor!
Erinaldo Alves
Tive o privilégio de ler, ainda adolescente, os romances de José Lins do Rego. Suas páginas povoaram a minha mente com imagens de Pilar e do Engenho Corredor, o “Santa Rosa”. Recentemente, confrontei a imaginação com a observação ao participar de uma “expedição fotográfica à cidade de Pilar/PB”, programação do “ano cultural José Lins do Rego” - promovida pela Secretaria de Educação do Município de João Pessoa.
A cidade de Pilar, fundada em 1885, é uma testemunha dos romances de Zé Lins. A avenida principal homenageia o coronel José Lins Cavalcanti de Albuquerque, o velho Zé Paulino. Em uma extremidade da avenida está a Igreja do Carmo, com sua torre apontada para o céu. Na outra, um prédio colonial, conhecido como “Casa de Câmara e Cadeia”, local da Fundação Menino de Engenho. No térreo, ficava a cadeia, local onde o menino Zé Lins, alimentava os presos ou acompanhava o avô, o velho Paulino. No primeiro andar, funcionava a Câmara da Intendência, Poder Executivo da época. A avenida é divida por canteiros iluminados por postes esverdeados que lembram o estilo art déco. Nas laterais, encontram-se diversas residências e prédios comerciais em estilo eclético.
Se a cidade evoca momentos de beleza, a indignação e o choque ocorrem quando se chega ao Engenho Corredor. O imponente e instigante engenho dos relatos de Zé Lins está ameaçado de desabamento, transformado em escombros, em abrigo de maribondos e morcegos, com várias pichações no seu interior.
O governo federal, via o Ministério da Cultura, vem incentivando a criação de museus e bibliotecas. Há várias linhas de financiamentos, facilmente localizadas no site do referido ministério. É preciso impedir que o conjunto arquitetônico do Engenho Corredor, tombado por meio do Decreto Estadual nº. 20.137, de 02.12.2008, desmorone.
O Ministério Público Federal formalizou, em 2007, uma ação ajuizada com o objetivo de garantir a recuperação e a preservação do Engenho Corredor, tendo como réus os proprietários, que especulam com a destruição do patrimônio cultural, o governo do Estado e o Iphaep, omissos ao assistirem passivamente à destruição.
O Engenho Corredor é um importante exemplo do que fazemos com a nossa memória e o nosso patrimônio cultural: deixamos que vá ruindo até desaparecer, quer seja por uma restrita visão comercial ou por uma simples omissão governamental.
A Paraíba está fazendo com a memória de Zé Lins, o contrário do que faz a cidade de Granada, no sul da Espanha, com a memória do poeta Frederico Garcia Lorca. A casa da família Lorca, onde viveu o poeta de 1926 até o início da Guerra Civil espanhola, em 1936, está preservada, com o mobiliário da época. Integra um importante roteiro turístico e cultural, da bela cidade espanhola de Granada.
O governo do Estado quer fortalecer o turismo para criar empregos na Paraíba. Isso só é possível enaltecendo o que a Paraíba tem de singular e importante. A obra de Zé Lins é conhecida nacional e internacionalmente. Pilar e o Engenho Corredor são testemunhos da história cultura do Brasil e da Paraíba. As ruínas clamam por ação política. É preciso protestar para que a cidadania cultural, relacionada com o universo literário de Zé Lins, não possa ser obstruída. Viva a memória do Engenho Corredor!
Erinaldo Alves
Fonte:
Comentários
Pesquisando imagens de minha querida e mal cuidada cidade de Pilar, me deparei com o seu blog, as fotos e seu artigo...me emocionei por demais!
Sou natural de Itabaina, onde nunca morei, sendo assim, me considero pilarense pois foi lá que passei meus melhores tempos da infância e tive o privilégio de visitar, muitas vezes, o Engenho Corredor, nos tempos em que era habitado por D.Montinha, acho que a última moradora daquele tão significante lugar...
Fico profundamente triste com o destino daquele que foi um dos principais cenários onde viveu Zé Lins, hoje em tristes ruínas...
Me comovi com seu artigo e aqui quis expressar meu agradecimento por tão sérias palavras.
Espero que com a mudança do poder executivo municipal, a nova gestora faça sua parte na defesa daquele patrimônio tão importante pra história de minha querida cidade!
Há braços
Mana de Tota
"(...)A ti que és pura
Mãe de ternura
Dos pilarenses
Nossa Senhora
Nós os teus filhos
Vimos agora
Render-te um pleito
Já nesta hora"
(Hino da Padroeira)
Saudades dos tempos de Padre Gomes, quando eu vivia "enfiada" naquela igreja, num rico convívio...
obrigado por seus comentários e pela correção. Se possível, faça chegar este meu texto as autoridades de Pilar. É um absurdo esta situação.
Abraços,
Erinaldo
(Quase paródia)
A Erinaldo Alves.
E agora José?
Cadê teu sorriso?
Cadê o teu jeito
De grande menino
Querendo brincar?
E agora José?
Cadê teu avô
Que não vem te buscar?
Cadê tuas tias
Do velho Pilar?
E agora José?
Sem Zefa Cajá,
Sem a velha Totônha
A noite é medonha;
Quem irá te alegrar?
O tempo passou,
O menino cresceu,
E ninguém percebeu
Que o mundo é engano
E que o passado ficou
Em completo abandono!
E agora José?
Cadê Papa-Rabo?
Cadê o moleque,
O menino Ricardo,
Que foi pra Recife
Pra homem feito voltar!
E agora José?
Cadê teu engenho?
Cadê teu avô?
Teu palco de amor,
Cadê, onde está?
Quem destruiu
O Engenho Corredor?
“E agora José,
José para onde?”
A noite está alta
E sentimos tão forte
A tua falta.
E agora José,
Aonde te escondes?
Nas páginas de um livro
Que gosto de ler
Sinto-me feliz;
Pois lá encontramos
Mais vivo que nunca!
O nosso ZÉ LINS.