A marca da idade – O filme-documentário 33 é um dos mais interessantes trabalhos de Kiko Goifman onde mostra uma busca em primeira pessoa de sua mãe biológica num documentário com clima de filme noir. Nos seus 33 anos, o artista ocupa 33 dias nessa produção. Enquanto se passam os dias pré-determinados, o artista contava com o contato de internautas que acompanhavam seu diário on-line, além das opiniões, várias vezes curiosas, de detetives particulares. Acima, algumas imagens do filme.
Um dos documentários de Kiko Goifman, um dos artistas de Cronofagia é “33”, 2002. Extremamente heterodoxo e biográfico versa sobre a possibilidade do artista por meio de entrevistas com detetives particulares encontrar sua mãe biológica. Além de outras questões, como a precariedade dos profissionais e o voyeurismo, o trabalho centra-se na questão temporal em diversos aspectos: a princípio, “33” é a idade do artista no desenvolvimento deste trabalho que além de ser uma idade memorável para os cristãos, é também em 1933 que sua mãe adotiva nasceu. Segundo: o tempo é pragmático na produção do trabalho, já que iniciados 33 dias de busca , terminam as filmagens do documentário. O tempo como imperativo seja enquanto passado, seja enquanto passagem.
Um outro trabalho dos artistas, Morte Densa, é uma fatura intermídia que agrupa um documentário em longa-metragem, um livro, uma vídeo-instalação e web arte. Estabelecem-se conexões que partem de um mesmo princípio: os assassinos-de-uma-morte-só, pessoas que não tinham a intenção dolosa de matar. A maior parte desse tipo de assassinato acontece com pessoas próximas, num momento de cólera que leva à morte. Surgem paradoxos nas entrevistas, como a culpa e a legitimação do ato. As relações de tempo no filme – que certamente migram para alguns dos outros meios – segundo GOIFMAN (2002:90):
"O primeiro ponto deste projeto que se associa a um questionamento proposto pela noção de tempo se relaciona às imagens que serão utilizadas. Não estaremos, em nenhum momento, efetuando reconstituições dos crimes. Ao contrário, a situação é de uma metáfora imagética proporcionada por um dado objetivo e temporal: domingo é o dia de maior ocorrência de homicídios cometidos por 'pessoas comuns'".
É certo que as relações poéticas dos documentários com o trabalho de web arte em questão são evidentes. Mas ainda no que se diz respeito ao tempo, há uma propriedade interessante em Cronofagia a ser discutida. É possível estabelecer uma distinção entre a assimilação do tempo proposto e uma construção colaborativa do tempo.
A televisão e o cinema nas suas formas mais comerciais e tradicionais tornam possível somente a assimilação de tempo previamente programado. O espectador é um sujeito-paciente à mercê de um tempo imposto e subjetivamente aceito, seja no momento em que se adentra uma sala de projeção, seja ao permanecer no canal de TV. Não se trata da passividade ou falta de interatividade: ao iniciar um filme ou um programa de TV, o tempo de existência do filme ou programa enquanto evento é determinado pelo exibidor ou criador. Já em Cronofagia, o visitante é o agente – coletivo – do tempo. É ele que determina a existência da imagem exibida, sua duração e seu fim.
"O primeiro ponto deste projeto que se associa a um questionamento proposto pela noção de tempo se relaciona às imagens que serão utilizadas. Não estaremos, em nenhum momento, efetuando reconstituições dos crimes. Ao contrário, a situação é de uma metáfora imagética proporcionada por um dado objetivo e temporal: domingo é o dia de maior ocorrência de homicídios cometidos por 'pessoas comuns'".
É certo que as relações poéticas dos documentários com o trabalho de web arte em questão são evidentes. Mas ainda no que se diz respeito ao tempo, há uma propriedade interessante em Cronofagia a ser discutida. É possível estabelecer uma distinção entre a assimilação do tempo proposto e uma construção colaborativa do tempo.
A televisão e o cinema nas suas formas mais comerciais e tradicionais tornam possível somente a assimilação de tempo previamente programado. O espectador é um sujeito-paciente à mercê de um tempo imposto e subjetivamente aceito, seja no momento em que se adentra uma sala de projeção, seja ao permanecer no canal de TV. Não se trata da passividade ou falta de interatividade: ao iniciar um filme ou um programa de TV, o tempo de existência do filme ou programa enquanto evento é determinado pelo exibidor ou criador. Já em Cronofagia, o visitante é o agente – coletivo – do tempo. É ele que determina a existência da imagem exibida, sua duração e seu fim.
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