Pular para o conteúdo principal

4 Brinquedos e gênero – representações visuais

Que tipos de bonecas existem? Que idades, etnias, profissões, e assim por diante, estão disponíveis como brinquedos, e quais não estão? Como são representados meninos e meninas, homens e mulheres – velhos, jovens, homens, mulheres, negros, brancos? E como se parecem? O que podem fazer? Quem é incluído e quem é excluído do mundo dos brinquedos? Quais são os significados sociais potenciais que diferenciam especificamente brinquedos de meninas de brinquedos de meninos, e quais são os valores ligados a essas representações?

Certos papéis, como práticas de domesticidade (a casa e a mulher como dona de casa, por exemplo) são super-representados, enquanto práticas de ‘paternidade’ estão basicamente ausentes no mundo dos brinquedos. A velhice é outra categoria social que é raramente representada no mundo dos brinquedos ocidentais. Assim, presumimos que os recursos utilizados pela indústria têm como base certos significados preferenciais, como sugerido por Hall (1997), que, por sua vez, têm como base determinada visão da ordem social.

Assim, nos perguntamos: quais são os significados sociais potenciais que diferenciam brinquedos de meninas daqueles de meninos, e quais são os valores ligados a essas representações?

Butler (1990) aponta que gênero é performativo, criado pela performance repetida de atores sociais. Gênero não é algo que temos ou somos, mas sim algo que atualizamos em performance. De acordo com a autora, negociamos constantemente e somos capazes de desafiar nossas posições de gênero em relação a concepções de feminilidade e masculinidade:

Gênero não é um substantivo, mas também não é um conjunto de atributos flutuando livremente, pois já vimos que o efeito substantivo do gênero é produzido de modo performativo e compelido pelas práticas reguladoras de coerência de gênero. Assim, nos limites do discurso herdado da metafísica da substância, o gênero se prova performativo [...] Neste sentido, o gênero é sempre um fazer. (p. 24-25)

Embora concordemos com a afirmação acima e com a noção de performatividade em gênero, parece que Butler exclui a semiótica de suas considerações: gênero também pode ser representado em termos de ‘identidade’ – o que você é ou que características você tem. O menino no filme francês a que nos referimos acima, ao brincar com Barbies, estava representando a feminilidade, já que ele não podia ir à escola vestido de menina, nem usar o cabelo de uma menina. Barbies e outros brinquedos, ao contrário, já são dotados de gênero antes que as crianças façam qualquer coisa, ou que qualquer coisa seja feita com eles. Em alguns casos, o gênero é representado por meio de traços não modificáveis (os pés da Barbie são às vezes desenhados exclusivamente para sapatos de salto alto, por exemplo), em outros casos, através de traços modificáveis (o penteado, roupas). Estes traços ou características constituíram nosso ponto de partida.

Para nós, os brinquedos, como objetos, são representações fixas inegociáveis. A verdadeira questão é, contudo, até que ponto e como as crianças (e os pais) se alinham com os significados de gênero dados. Esta é uma questão muito importante, que precisa ser melhor pesquisada. Nas próximas seções, apresentaremos algumas das maneiras como o gênero é representado em brinquedos.

Autores: Carmen Rosa Caldas-Coulthard e Theo van Leeuwen
Fone: http://www3.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/0403/01.htm

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CULTURA E BELEZA...

Os padrões estéticos são diferentes para diversos povos e épocas. Muitas vezes o que consideramos algo bizarro e feio, para alguns povos é algo com significado especial e uma busca por outro padrão de beleza. Na África diversos povos possuem algumas práticas e costumes que podem parecer bizarros para os ocidentais. O povo Mursi, na Etiópia, costuma cortar o lábio inferior para introduzir um prato até que o lábio chegue a uma extensão máxima, costuma pôr também, no lóbulo da orelha. Ao passar dos anos, vão mudando o tamanho da placa para uma maior até que a deformação atinja um tamanho exagerado. Tais procedimentos estão associados a padrões de beleza.[...] As mulheres do povo Ndebele, em Lesedi, na África, usam pesadas argolas de metal no pescoço, pernas e braços, depois que casam. Dizem que é para não fugirem de seus maridos e nem olharem para o lado. Esse hábito também pertence as mulheres do povo Padaung, de Burma, no sudoeste da Ásia, conhecidas como “mulheres girafas”. Segundo a t...

Iluminogravuras de Ariano Suassuna

1) Fundamentos da visualidade nas imagens de Ariano Suassuna: - É herdeiro de uma visão romântica: “invenção de uma arte tipicamente nacional”. - O nordeste surge como temática privilegiada no modernismo, especialmente, após a década de 1930; - Ariano acredita que a “civilização do couro” gestou nossa identidade nacional; - Interesse por iluminuras surgiu a partir de A Pedra do Reino 2)Iluminuras Junção de Iluminuras com gravuras. É um tipo de poesia visual: une o texto literário e a imagem. Objeto artístico, remoto e atual, que alia as técnicas da iluminura medieval aos modernos processos de gravação em papel. 3) Processo de produção de iluminuras Para confeccionar o trabalho, Ariano produz, primeiro, uma matriz da ilustração e do texto manuscrito, com nanquim preto sobre papel branco. Em seguida, faz cópias da matriz em uma máquina de gráfica offset; Depois, cada cópia é trabalhada manualmente: ele colore o desenho com tintas guache, óleo e aquarela, por meio do pincel. - Letras – ba...

Analisando o desenho animado: Bob Esponja

Fonte da imagem: sapo-com.blogspot.com/2007/08/bob-esponja.html Histórico do desenho O desenho foi criado por Stephen Hillenburg, formado em ciências e biologia marinha e em desenho artístico. Para compor o seu personagem, ele começou a desenhar esponjas redondas, mas depois descobriu que as esponjas quadradas poderiam ser engraçadas, com calças quadradas e gravata. O personagem criado por ele foi então batizado de "Spongeboy", mas já havia um outro com esse nome, e tiveram que rebatizá-lo como "Spongebob". No dia 22 abril de 1999, depois do 12th Annual Kid's Choice Awards no canal por assinatura Nickelodeon, Bob Esponja bateu recordes de audiência pela primeira vez no ar com o episódio piloto "Help Wanted/Tea at the Treedome". Mas, oficialmente, dia dezessete de julho, com o segundo episódio "Bubblestand/Ripped Pants", o desenho cresceu como fenômeno, tornando-se o número um da Nickelodeon. Descrição do desenho O desenho é ambientado no cora...