Fonte das imagens: www.novomilenio.inf.br
http://www.universiabrasil.net/especiais/patrimonios_historicos/missoes.htm
Infância pobre e indígena: formação profissional nas artes e ofícios no plano de Nóbrega
O reformulador espanhol Juan Luís Vives recomendava que crianças pobres “propícias para as ciências” fossem mantidas na escola, para serem mestres de outros ou para ingressarem no seminário. Os demais deveriam aprender ofícios, conforme “a inclinação de cada um”.
Os colégios, da Confraria dos meninos de Jesus, fundados por Manuel da Nóbrega, na Bahia e em São Vicente, encarregavam-se da instrução das crianças pobres e indígenas. Tratava-se de uma instituição que tinha uma situação jurídica ambígua: era, a um só tempo, uma instituição eclesiástica, pois atuava como um seminário; filantrópica, uma vez que cuidava de órfãos e educacional, porque atuava como colégio.
No plano de Nóbrega, o ensino profissionalizante das artes e ofícios era parte integrante do programa de ensino. Contudo, essa modalidade de ensino não gozava, pelos motivos expostos anteriormente, tal como hoje, com o prestígio das autoridades. Isso ficou muito evidente com a morte de Nóbrega, em 1570, quando foram excluídos as partes iniciais e o aprendizado das artes e ofícios, agrícola e musical.
Quando terminavam os estudos elementares, o plano de Nóbrega encaminhava, a maioria dos alunos, para o aprendizado profissional das técnicas agrícolas, das artes e ofícios. Uma minoria, tida como mais inteligente, passava para a aula de gramática latina. A escolha para a bifurcação de estudos baseava-se nas "aptidões e dotes intelectuais". Os que mais se distinguiam nos estudos de gramática latina poderiam realizar, como prêmio, uma viagem de estudos à Europa, especialmente aos colégios de Coimbra e Espanha.
O menosprezo em relação à arte na educação, que ainda hoje perdura, é bastante compreensível pelos títulos e prêmios concedidos pelo jesuitismo. Não é por acaso que essa suposição está tão enraizada e é tão difícil de pensar diferente.
Catequese coletiva: formação profissional nas artes e ofícios no projeto missioneiro
As Missões Jesuíticas eram modalidades de “catequização estável”, que empregavam o confinamento para uma comunidade inteira. Foram oficializadas pelos jesuítas em 1602 e implantadas entre 1609 a 1768. São consideradas o mais estratégico e eficiente processo de catequese a partir da articulação da governabilidade social, sem o uso impositivo da arma e da violência, pois os castigos eram “consentidos” e “combinados”.
Depois das atividades matinais iniciais, seguindo a mesma classificação do plano de Nóbrega, os meninos eram divididos em três grupos: os que aprenderiam a ler, escrever e contar; os que seguiriam para as artes e ofícios e os que realizariam os trabalhos agrícolas. Cada redução possuía oficinas de música, dança, pintura, escultura e demais ofícios. Para cada ofício e especialidade artística, havia uma oficina repleta de instrumentos e materiais de trabalho, contendo estampas religiosas que serviam de “modelo” para as esculturas e pinturas. As meninas, seguindo os preceitos coloniais, aprendiam a tecer, bordar e costurar. A produção destinava-se ao autoabastecimento das necessidades da redução, diferenciando-se pela “especialização” e pela demanda.
Os jesuítas, além de valorizarem a própria atuação polivalente, enalteciam a mesma atitude nos indígenas. Esse fato indica que a polivalência não é uma "invenção" tão recente assim. O padre Sepp considerava necessário, por mais simples que fosse a atividade, estar sempre junto dos índios orientando-os e fornecendo-lhes moldes e modelos.
Embora a submissão ao modelo europeu fosse preponderante, isto não significou que a produção cultural, na colônia, tenha ficado restrita, apenas, à cópia. Os índios, na qualidade de hábeis pintores e escultores, apropriaram-se das técnicas européias para, também, representarem, sutilmente, seus valores e tradições.
Erinaldo Alves
Julho de 2007
(trechos extraídos da Tese de doutorado. Ver indicação bibliográfica na coluna ao lado)
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