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Artes Plásticas, Artes Visuais e Cultura Visual


Fonte da imagem: http://static.flickr.com/6/69001630_eb64fd549b_o.jpg

Obs: Estou postando um comentário do Prof. Belidson Dias, professor da Universidade de Brasília (DF) feito no fórum virtual da FAEB - faeb@yahoogrupos.com.br . Achei muito lúcida a maneira como distinguiu artes plásticas, artes visuais e cultura visual. Estou postando, apenas, um trecho do seu comentário e organizando visualmente para facilitar a leitura aqui.

Artes Plásticas

"O termo artes plásticas surge no Brasil no século XX apropriado do Francês Arts Plastiques, por sua vez radicado nas tradições greco-romanas de arte como um fazer fluído. No momento em que o termo aparece, convencionalmente, é apresentado como uma noção que atendesse as demandas da arte atual daquele período. Em outras palavras ele passa a existir como reação às ³antigas² formais e engessadas escolas de Belas Artes.
Em meados do século XX , a educação brasileira, altamente dependente dos modelos educacionais franceses, adota os passos da França, que nos anos sessenta cria cursos
universitários usando essa terminologia,e por vias institucionais aplica nos anos setenta este conceito na criação de estabelecimentos de ensino superior. A idéia principal era que as escolas de Belas Artes tinham uma abordagem muito tradicional e não acompanhavam a rapidez e ³plasticidades² da produção contemporânea daquela época, ou seja anos sessenta e setenta. Consequentemente o termo Artes Plásticas surge como um efeito da inaptidão do termo Belas Artes de ser inclusivo; e neste sentido o conceito preferido ambicionava abarcar ³todas² as formas de expressões imagináveis.
Neste período histórico, a multiplicação e desenvolvimento de novos meios de comunicação e medias auxiliaram a produção de novas formas de expressão em arte contemporânea, como a arte conceitual, o site specific, a performance, e a arte efêmera. E o termo Artes Plástica parecia atender melhor estas novas linguagens do que as Belas Artes. Dessa maneira os novos meios de comunicação e medias apoiaram e legitimaram novas formas de se fazer ³arte² em que a plasticidade do mundo e os seus meios eram os principais objetivos ao invés de buscar uma incessante indagação sobre o Belo. É relevante trazer agora a descrição de Amaro Braga sobre o conceito de arte e das Belas Artes
Segundo BRAGA (2006, a palavra ³arte² vem do latim Ars, que significa [fazer, e/ou] habilidade. O artista era o habilidoso executor de uma função específica. Todos os
exímios artífices eram artistas: ferreiros, sapateiros, ceramistas, pintores e escultores. Na tentativa de distinguir estes dois últimos dos demais, se passou a denominar as pinturas e esculturas de obras das Belas Artes. Eram artífices do belo. E a beleza reinou por muito tempo nas artes...[E de certo modo ainda impera] O problema começou quando estes modeladores do Belo resolveram produzir obras que não eram nada belas ou não reproduziam o que era belo. Como chamar então aquelas realizações de Belas Artes? Era o início das discussões sobre a Estética na arte [pelo menos desse tipo de estética]. O que era então [o]Belo? [...] ³Arte² passou a ser então as representações de sentimentos e expressões humanas executadas sobre uma perfeição estética e técnica. Principalmente técnica. Foi a valorização da técnica que desenvolveu grande parte dos movimentos modernistas: não eram as representações que interessavam e sim, como eram executadas e como se processava a intercessão entre sentimento e técnica. A técnica de execução do material empregado na fixação da emoção sobrepujou sua antiga função. (¶ 1-2)
Como resultado, reação e efeito das Belas Artes segundo BRAGA as artes plásticas não são nada mais que ³a capacidade de moldar, modificar, reestruturar, re-significar os mais diversos materiais na tentativa de conceber e divulgar nossos sentimentos e, principalmente, nossas idéias. É a essência do plástico²(¶ 8-9). Naquele período, as artes plásticas incluem além das linguagens tradicionais estudadas e produzidas pelas Belas Artes - a pintura, escultura, gravura, desenho entre outros- a arte conceitual, performances, happenings, instalações, e várias outras expressões não
contempladas até então.
As artes plásticas, entendido como conceito aqui, passam então a envolver e abranger a produção de trabalhos de arte relacionadas não exclusivamente a objetos estéticos, mas nomeadamente, a procedimento e expressões que revelam e/ou apresentam relações de significado. No sentido hermenêutico, a noção de artes plásticas carece de ser entendido como algo, um objeto, que é capaz ou passível de receber, de experimentar, de sofrer certas impressões ou modificações ou de adquirir determinadas qualidades, enfim, de ser modelado, Então o que vai definir o conceito de artes plásticas é a relatividade com que os materiais físicos e conceituais se sujeitam à modelação ao mesmo tempo que resistem a fixidez de modelos, padrões, movimentos e escolas.

Artes Visuais

Depois da consolidação institucional ³transitória² do conceito artes plásticas nos anos sessenta e oitenta no Brasil nos anos noventa começa a surgir com força uma discussão de uma nova nomenclatura que aumentasse ainda mais o scopo de abrangência das artes plásticas. logo, artes visuais foi o termo contemplado por muitos departamentos de arte; incluído aqui está o Departamento de Artes Visuais do Instituto de Artes que mudou de nome em 1989, onde trabalho.
Esta inserção terminológica também simboliza o período de três décadas de influência direta da Educação Norte-Americana ( leia-se EUA) no sistema educacional brasileiro desde os acordos MEC/USAID durante a ditadura militar Brasileira até os nossos dias.
A expressão Artes Visuais é um anglicismo que se inseriu no contexto nacional simbolizando uma passagem do fazer e das atividades mais práticas e plásticas ( artes plásticas) para questões da percepção ou a tudo que é
relativo à visão.
Assim as Artes Visuais estendem-se a todo o território da visualidade, do design à comunicação visual, do cinema a arte tecnológica digital. A visão de mundo europeu é subjugada a visão de mundo Norte Americana e a nossa acriticamente permanece subjugada às duas.
Igualmente é importante contextualizar historicamente esta mudança de paradigma. A arte contemporânea dos anos setenta em diante, nos países desenvolvidos, e nos grandes centros urbanos de todo o mundo ¬ incluindo especialmente, no caso Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro - consolidou-se como um dos pilares do Pós-modernismo artístico. Houve, a partir dessa época, um deslocamento nas representações artísticas das questões formais e individuais, que valorizavam o estilo expressivo e pessoal do artista, para novas categorias de produção artística que valorizavam o social; dentre elas, as de classe, raça, gênero e sexualidade. Isso fez com que boa parte da arte contemporânea passasse a privilegiar em seu discurso, aqueles que se
encontravam até então, sem representatividade na história da arte. As questões passaram a ser maior do que a inclusão de técnicas, estratégias, instrumentos, movimentos, e tipos de expressão. Essa mudança ³coincidiu² também com o deslocamento e poder da arte ocidental européia ¬ notadamente a França - para a Norte Americana.

Cultura Visual

Aqui cabe algumas palavras sobre a Cultura Visual. Embora o campo da educação, dos anos noventa até agora, viu o aparecimento de trabalhos que examinam eficientemente aspectos do ensino e da cultura visual, a cultura visual como um campo emergente de pesquisa transdiciplinar e trans-metodológico, que estuda a construção social da experiência visual, é ainda extraordinariamente fluído, um conceito mutável sujeito a múltiplos conflitos.
Entretanto, apesar das disputas em torno dele, há uma compreensão que a cultura visual enfatiza as experiências diárias do visual, e move assim sua atenção das Belas Artes, artes plásticas e artes visuais, ou seja, de uma cultura de elite para a visualização do cotidiano. Além disso, ao negar limites entre arte de elite e formas de arte populares, a cultura visual faz do seu objeto de interesse os artefatos, tecnologias e instituições da representação visual. Representação visual concebida aqui como um local onde a produção e a circulação dos sentidos ocorrem e são constitutivas de eventos sociais e históricos, não simplesmente uma reflexão
dele.
Este foco da cultura visual em uma noção mais ampla do que é o visual e visualidade parece ser um dos elementos chave para se compreender a hesitação do engajamento dos arte-educadores com a cultura visual. Historicamente, os currículos de arte foram implementados na educação baseados nos valores da elite cultural, com um grande débito aos princípios do Desenho/Design; assim, o formalismo, que está incrustrado nos princípios do Design, transformou-se a posição preferida do campo (Barbosa, 1991, 2001; Duncum, 1990; Efland, 1990; Hobbs, 1993).
Hoje em dia, as escolas de arte e os programas de arte-educação estão enfrentando a necessidade desafiar esta noção predominantemente formalista de visualidade modernista. Durante os últimos dez a quinze anos, preponderantemente na América do Norte, surgiram alguns esforços em discutir, promover e executar o que foi descrito
como a Nova Arte-Educação, ou Ensino Contemporâneo de Arte, ou até mesmo Arte Educação Pósmoderna, que por sua vez são conceitos identificados na maior parte com os princípios da Disciplined Based Art Education (DBAE) e do Ensino Multicultural de Artes.
Indubitavelmente, desde então houve algumas mudanças e os programas de arte-educação se comprometeram mais em explorar os diversos meios além dos tradicionais pintura, escultura, cerâmica, gravura, desenho e tecelagem, e também estão incorporando lentamente aspectos dos estudos culturais, da cultura visual e da crítica e apreciação da arte em suas práticas. Paul Duncum (Duncum, 2002c) afirma que progressivamente um maior número de arte educadores estão usando o termo cultura visual em vez de artes visuais; e não obstante os seus vagos conceitos da cultura visual, eles têm reconhecido que a distância ente os conceitos modernistas da arte da elite e da arte popular vêm se retraindo. Ele afirma que estamos vivendo em um mundo tecnológico visual complexo onde as imagens se transformaram no produto mais
essencial para nossa informação e conhecimento. O aspecto da visualidade, que se refere a como nós olhamos, vemos, contemplamos, fitamos, miramos, observamos, testemunhamos, examinamos, vislumbramos, olhamos de relance, espiamos, espreitamos, e entrevemos o mundo é particularmente relevante para a construção da representação do conhecimento; e revela uma necessidade para uma exploração adicional dos conceitos da comunicação e representação cultural.
Nós vivemos imersos em um mundo tecnológico visual extremamente sofisticado e difícil onde as imagens que usamos no cotidiano para nossa comunicação, instrução e conhecimento transformaram-se uma mercadoria valiosa e indispensável. Conseqüentemente, os estudantes necessitam compreender como e porque são seduzidos por um imaginário do cotidiano e de que forma eles podem mediar essa relação como sujeitos agentes.
Importantíssimo ressaltar que a cultura visual não ocupa-se somente com o visual, mas com outras formas sensoriais de comunicações, e não concentra-se somente nos fatos e artefatos visuais observáveis, mas também volta-se para os modos e os diversos contextos da visão e representação.
O interesse no estudo dos artefatos visuais tem aumentado ligeiramente na arte-educação, mas o processo de atribuir sentido em como nós vemos não parece ter afetado
a maioria dos currículos de arte-educação. Um dos efeitos da minha experiência de ensino nos níveis fundamental, médio e superior, foi perceber que as práticas do ensino de arte estão comprometidas inteiramente com o objeto ou o artefato material denominado arte, mas raramente desenvolvem estratégias, métodos ou modelos interpretativos que reflitam, explorem e valorizem o sujeito como um elemento fundamental para a compreensão do contexto e posicionamento da visão do espectador.

Finalizando, eu gostaria de argüir que o mais importante é que as discussões sobre as taxonomias que envolvem as produções culturais não desviem totalmente a atenção das questões das especificidades locais de produção material e imaterial das artes. Qual o termo seria ou é o mais indicado para utilizarmos? Não sei, prefiro utilizar a cultura visual, mas como um Freiriano convicto eu diria que sempre seremos visitados pelo contexto social e ao receber bem esta visita nos colocaremos ao seu dispor para entender qual é o seu objetivo, o desejo, e a justificativa desta aparição. E após obter estas informações eu me sinto à vontade de nomear o meu
visitante, dependendo da situação posso nomear diferentemente. Nem que seja
pra mim, só por um instante.


Espero que ajude um pouco.....
OBS : algumas citações e referências foram omitidas."

Comentários

Luciana disse…
Erinaldo, parabéns pela iniciativa do blog. Aqui tem tanto conteúdo que a gente nem sabe por onde começar. É isso mesmo, temos que aprender a compartilhar nossas idéias de forma mais contemporânea. Um abraço, Luciana Gruppelli Loponte

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