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Como a Globo gera a infância abandonada e repassa a conta aos brasileiros

Por Mozar Ornelas

Eu não conheço nenhum outro país do mundo que estimule tanto o sexo pela televisão como aqui.” (José Serra, governador de São Paulo e ex-candidato à Presidência da República)

O brasileiro não tem como saber, mas não há nada de natu­ral no excesso de exploração do conteúdo sexual que ocorre na TV brasileira.

O Brasil é visto no exterior como “paraíso sexual”, a gravidez na adolescência atinge números alarmantes, todos os dias nas­ce um batalhão de crianças que jamais saberão o nome do pai, enquanto a maior potência da comunicação no Brasil investe numa programação que empo­brece a cultura e o senso crítico dos brasileiros, apostando no “Criança Esperança” para manter a imagem de empresa com com­promisso social.

São duas horas da tarde e o Vídeo Show apresenta uma discussão sobre a possibi­lidade de haver distinção entre o sêmen de um peão e o sêmen das diversas categorias masculinas. Logo em seguida, a novela exi­bida em Vale a Pena Ver de Novo mostra um casal de adolescentes desesperados à procura de um lugar mais reservado para manter re­lações sexuais. Segundo o personagem,suas experiências sexuais costumavam acontecer no carro ou no mato. Na novela das seis, Florinda, personagem de Grazielli Massafera, conta que sua “caçarola fica fervendo” quando está com o namorado. Na trama das sete, as cenas de sexo são lugar comum. Na novela das Duas Caras, que começa às 9, o linguajar de baixo calão, pobremente recheado de intenções medíocres, é intercalado com cenas de sexo implícito. No sábado, Luciano Huck apresenta suas dançarinas despidas em coreografias de gosto e qualidade duvidosos, o que se repete no Domingão do Faustão, aos domingos, dia em que o programa “Fantástico” relata o tra­balhoso processo de pintar o corpo nu de uma mulata estonteante ou entrevista garotos que contam quantas pessoas beijou naquela noite, durante uma festa. Pouco depois das 10 horas, o programa Big Brother fecha a noite com uma mulher de costas, quase nua, sendo beijada por um rapaz que lhe apalpa as nádegas sob a micro-saia, e um desfile de mulheres com espuma de barbear sobre os seios deixam os homens da casa embasbacados.

Ao mesmo tempo, num vilarejo pobre da região Norte do Brasil, a menina de 14 anos assiste e tenta desvendar o modo de agir e se comportar dos “modelos humanos” criados pela TV. As mulheres são lindas! Quando saírem dali serão famosas e assediadas, a re­presentação em carne e osso do sucesso. São moças que trocaram o primeiro beijo 24 horas depois de conhecer o rapaz, que revela seu desejo de realizar um “test drive” no paquera, uma expressão que escapa ao entendimento da menina, mas a intenção das palavras, revelada pelo contexto, é claramente captada.

A menina se imagina no lugar daquelas mulheres. Os jovens brasileiros sonham com o sucesso e a fama, vêem como se comportam os famosos e mapeiam o comportamento que define a chegada ao pódio.

Quando se aproxima de um garoto por quem se interessa, buscará as receitas de sucesso que lhe foram apresentadas. Logo, porém, essa menina descobre que as garotas do mundo real engravidam, que os meninos não conseguem assumir a responsabilidade da paternidade e que a pobreza dividida com filhos transmuta-se em miséria. Aos 18 anos poderá ter três crianças, cada uma de pai diferente, todos vivendo em condições sub-humanas.

Surge, então, o programa “Criança Esperança”, uma campanha realizada anual­mente pela Rede Globo. Nos intervalos das programações que banalizam o sexo, atores populares aparecem na tela solicitando con­tribuições financeiras para remediar a miséria das crianças que nasceram das receitas de comportamento produzidas pela própria Glo­bo. Operam a comunicação como um produto comercial; contabilizam para si os lucros e constroem uma imagem de preocupação com “o social” através das doações financeiras dos brasileiros solidários.

O conjunto de valores de um povo se materializa na realidade de vida do cotidiano, e a comunicação é um elemento primordial na formação dos valores sociais. No entanto, há uma corrente vigente que rotula de retrógrado e arcaico qualquer pensamento que se contra­ponha à idéia de que o ideal para o ser humano seja o conceito de progresso e modernidade associado à liberalidade e permissividade. Diante do preconceito, do receio de ser tomado por um tolo conservador, a maioria daqueles que contestam esta linha de conduta, termina optando pelo silêncio e omissão, facilitando a ação dos que apregoam uma sociedade baseada no mito da liberdade sem responsabilidades.


A sensualidade “natural”

O atual governador de São Paulo e ex-candidato a Presidente do Brasil, José Serra, declarou em uma entrevista: “Eu não conheço nenhum outro país do mundo que estimule tanto o sexo pela televisão como aqui.”

O Brasileiro, sem a referência de outros países, acostumou-se ao padrão veiculado e considera normal o volume de conteúdos com conotação sexual exibido na programação te­levisiva. No entanto, quem tem a oportunidade de viajar para outros países chega a se espantar com a diferença, não apenas da programação como também dos costumes e comportamen­to do povo, especialmente o europeu. Foi de lá que Sílvio Santos importou o formato do Show do Milhão, programa de perguntas e respostas que oferece prêmios aos vencedo­res. A diferença está no nível das perguntas. Versam sobre história mundial, geografia e informações culturais de alto nível, nada a ver com os questionamentos primários da versão brasileira. Evidentemente, há também progra­mas com o formato BBB e deve haver os de conteúdo menos apropriado, mas é preciso procurá-los para que sejam encontrados, pois não há mulheres nuas ou referências sexuais na programação normal.

Um bom exemplo é o depoimento de Cristina Amaro Neves, que deixou o Brasil aos 11 anos, foi criada na Suécia, viajou pelo mundo todo e retornou ao país para uma visita, em novembro do ano passado. Agora, aos 29 anos de idade, Cristina se revela surpresa com o comportamento dos brasileiros:

“Uma das coisas que mais me chocou no Brasil é a naturalidade com a qual se encara a promiscuidade sexual. Na minha cidade, a gente sai com um homem três me­ses antes que ele tenha a coragem de te dar um beijo. No Brasil bastam três minutos de conversa. Em todas as grandes cidades do mundo, esse é um comportamento isolado, de alguns grupos que são mal vistos pela grande massa, mas aqui é generalizado, socialmente aceito. Achei deprimente, tive a sensação de estar numa tribo indígena.”

De fato, caminhando pelas ruas de Portu­gal, Espanha, França e outros países europeus, mesmo no auge do verão, onde as tempera­turas reproduzem o clima tropical, nota-se uma gigantesca diferença no modo como as pessoas se vestem. Não há o exibicionismo, a exposição do corpo, a barriguinha de fora ou a preocupação acentuada com a aparência, como acontece no Brasil.

Recentemente, o Globo Repórter, Rede Globo, dedicou seu programa a inves­tigar os motivos que levaram o Brasil a ser visto no exterior como “um paraíso sexual”. Entrevistaram diversos turistas e revelaram a predominância de quem vem atraído pela grande liberdade para a prática da pedofilia e de relacionamentos instantâneos entre os adultos hetero ou homossexuais.

- “O que mais eu poderia procurar no Brasil? Cultura?” - pergunta ironicamente um turista americano.

O sexo casual na formação do indivíduo

O corpo humano possui a capacidade de responder aos estímulos sexuais desde o nascimento – um conceito difundido por Freud e por pesquisadores contemporâneos em todo o mundo. A sexualidade, por ser latente, pode ser despertada até mesmo através de simples estímulos visuais, sonoros e da imaginação.

Há uma confusão pautada na irreflexão e falta de preparo de quem define a linha de programação nas emissoras que banalizam as questões sexuais. Tais pessoas parecem des­considerar que um garoto aos 14 anos de idade, por mais que saiba colocar uma camisinha em uma banana, sua formação psicológica não se encontra suficientemente amadurecida para es­tabelecer relações entre ações e conseqüências, implicando na ausência da responsabilidade necessária para a prevenção adequada.

O ingresso no exercício da sexualidade envolve questões como auto-respeito, afeti­vidade e auto-estima. Dependendo de como o relacionamento acontece e se desdobra, pode resultar num comportamento promíscuo onde se tenta, a todo custo, reverter a rejeição e inadequação resultantes das primeiras ex­periências, ou conduzir o adolescente a uma interminável crise de apatia e descrédito que se amplia para todos os setores da vida que de­veria estar em construção, cujos valores como aceitação e rejeição, valoração ou descrédito, implicam na condição emocional para se situar e perseguir objetivos e sonhos mais amplos.

Uma ampla análise da influência da Globo sobre o comportamento dos brasileiros foi realizado pela BBC de Londres, através do documentário “Muito além do cidadão Kane”, disponível na Internet. Nele, os repórteres en­trevistam moradores de casebres miseráveis onde adultos e crianças evidenciam o fascínio que as novelas, em primeiro lugar, exercem so­bre crianças e adultos na mesma proporção.

O BBB foi criado para ser um progra­ma de família, utilizando desenhos animados divertidos que atrai o público infantil. Teori­camente, ali estão reunidas pessoas comuns, por ser um programa que tem como objetivo a análise comportamental, mas as mulheres escolhidas para participar são quase sempre bastante liberais e muitas já posaram para sessões de fotos em revistas eróticas. Diversos situações, dentro da casa, são calculadas pre­cisamente para se obter determinados efeitos. Podemos citar como exemplo a piscina, onde os participantes passam a maior parte do dia e são realizadas diversas tomadas, inclusive das festas, resultando naturalmente numa ex­posição de mulheres de biquíni e homens com peitorais à mostra, motivo pelo qual a seleção não é aleatória, e sim definida pela estética dos candidatos. Tudo ali é planejado para alavancar a audiência e manter toda a família diante da TV, ainda que a abertura venha com a “sugestão” da faixa etária liberada para assistir ao programa

A realidade do Brasil é apontada pela educadora Regina de Assis da seguinte for­ma: “Se você visitar favelas e periferias das cidades, se for para o campo, para a zona rural, poderá não encontrar uma geladeira, uma cama para cada pessoa, um fogão, mas ao entrar nas casas, nos barracos, uma tele­visão jamais faltará.” Portanto, a televisão é o único meio de comunicação que atinge as massas, e é apontado como aquele que conta com maior credibilidade. Graças à força das imagens transmitidas, o expectador não tem como saber o que foi omitido da informação, não consegue capturar racionalmente o efeito que uma trilha sonora agrega ao material.

“Dependendo da trilha sonora colocada sobre as imagens de um grupo de jovens embriaga­dos, levando garrafas à boca com movimentos confusos, e mulheres sendo apalpadas por mãos diversas, poderíamos receber a cena como um retrato deprimente da degradação humana. Mas quando a Globo escolhe um grande sucesso dos Rolling Stones, uma música envolvente, divertida, cosmopolita, a imagem ganha ares de uma grande diversão de pessoas modernas e antenadas. É esse o tipo de comunicação realizada pela equipe do Big Brother.”

O Brasil sempre foi um país pobre, e a televisão chegou num momento em que não havia opções de lazer, tornando-se um grande fenômeno de popularidade.

A TV Globo definiu sua linha de ação ainda muito cedo. O programa do Chacrinha, que animava as tardes de domingo, trazia mu­lheres em trajes sumários (algo muito novo e impactante para a época), que rebolavam em coreografias ultra sensuais, o que a maioria da população do interior do Brasil nem suspeita­va existir. Neste cenário, Chacrinha atirava pedaços de bacalhau para a platéia, enquanto apresentava novos cantores. Com a novidade da comunicação em massa, levou a fama de haver contribuído para impulsionar muitas carreiras e tornou-se parte da história da TV brasileira mesmo com um programa marcado pelo desrespeito ao público, à mulher e aos artistas que expulsava com uma buzina estapafúrdia.

Para um povo pouco afeito à leitura, as tramas contidas nas novelas se revelaram um atrativo irresistível, formando o hábito de as­sistir e comentar a trajetória dos personagens. A Globo saiu na frente com as produções mais bem elaboradas e passou a definir as relações sociais. Na novela Espelho Mágico, a atriz Lídia Brondi assustou os adultos com a atitude rebelde de sua personagem em relação aos pais: “Não enche o saco, pai”. Foi um susto para os pais e um modelo para crianças e adolescentes.

Na década de 70, o executivo mais bem pago de toda a América Latina era Walter Clark, diretor geral da Rede Globo. O Brasil tem 70% de sua população adulta situada entre os semi-analfabetos ou analfabetos ab­solutos. Sendo assim, de que forma os pais brasileiros, situados neste limite intelectual, poderiam concorrer ideologicamente com um profissional tão bem preparado, com recursos de ponta em defesa de sua linha de pensamen­to e conduta? Esperar que a opinião dos pais pudesse produzir um efeito maior que todo um contexto propagado por um veículo de massa, é desconsiderar a subjetividade do adolescente que, comprovadamente, é mais aberto ao que vem de fora do ambiente familiar e considera o ponto de vista dos pais como ultrapassado e conservador.

“A TV é a mídia mais superficial de todas. Ela irá mudar quando tivermos um espectador mais crítico e exigente e quando a baixaria deixar de ser tolerada por quem faz TV. O espectador tem um poder ainda não totalmente exercido: o de mudar de canal.” Esta declaração do apresentador Serginho Groisman, contratado da Rede Globo, reproduz o discurso daqueles que pretendem inocentar a emissora. Não é verdade que a TV seja superfi­cial, ao contrário. A utilização de luzes, sons e cores, resulta num efeito que agrega sentido e profundidade a qualquer discurso, penetrando diretamente no inconsciente humano. Atribuir tamanho peso ao ato de desligar o botão da TV soa como uma idéia no mínimo ingênua, para não dizer mal intensionada. Melhor para a Glo­bo que alguns desliguem o seu aparelho, pois 89% por cento da população apontada como desprovida de senso crítico aprimorado (de acordo com o Pnad, apenas 11% dos brasileiros possuem a capacidade de compreensão integral de um texto mais elaborado) continuará sendo uma excelente audiência. Mesmo que o pai desligue, os filhos religarão a TV na primeira oportunidade.

Existem programas educativos na Glo­bo, quase todos exibidos antes do sol nascer.

O diretor de cinema e TV, Pedro Paulo ao ser indagado sobre a interferência do público na qualidade da informação, usou de uma fran­queza raramente presente entre os profissionais do meio: “O público é passivo, ele aceita o que tem na tela. A qualidade da informa­ção depende de quem produz e apresenta os programas e não de quem os assiste. As grandes emissoras, por exemplo, só medem o comportamento do público por meio de pes­quisas do IBOPE, que abrange um universo muito pequeno de telespectadores. É por isso que digo que o público não interfere tanto, quem está atrás das câmeras, sim.”

Já o produtor e cineasta Barry Levin­son é ainda mais enfático: “Não existe hoje nenhuma outra força que influencie tão poderosamente o comportamento quanto a televisão”, deixando clara a inviabilidade de fixar como solução a mera contraposição por parte da família ou escola.

Transferir a responsabilidade à popula­ção equivale a dizer que o brasileiro consciente teria que mudar um país inteiro, apenas para manter a Globo em sua confortável posição “intocável”.

Um monstro chamado “Censura”

A palavra Censura soa como peste aos ouvidos brasileiros, não sem razão. Milhares de brasileiros foram torturados e mortos por se rebelarem diante das restrições políticas e ideológicas impostas pelos militares. Por isso, atualmente, qualquer forma de controle da comunicação no Brasil é recebida com dramáticos apelos das emissoras e veículos da imprensa que qualifica a iniciativa como um sinal de que a liberdade de expressão voltará a ser censurada, acendendo os faróis vermelhos no inconsciente coletivo da população.

A questão, porém, gerou um efeito cola­teral nocivo: ao se colocar na mesma embala­gem a censura à liberdade de expressão, às opi­niões políticas e ao conteúdo sexual, perde-se a condição de possibilitar um viés pedagógico para a informação e coloca o país nas mãos dos empresários da comunicação e do poder econômico. É o outro lado da mesma moeda: O governo não pode impedir a veiculação de opiniões políticas ou conteúdo sexual, mas os donos das emissoras sim. E o fazem sem qualquer constrangimento ou impedimento legal. Um bom exemplo de como a lei fracassa na tentativa de impor limites está na veiculação das vinhetas que exibem a “Globeleza”, sím­bolo do carnaval da Globo. A mulata brasileira de belas formas, rebolado perfeito e nenhuma roupa, é exibida em todos os horários, quando a lei determina que nenhum conteúdo com apelo erótico pode ser veiculado antes das 21 horas. As mulatas Globeleza possuem forte apelo erótico que não escapa à percepção mesmo de uma criança de 5 anos de idade.

Existem medidas restritivas regulamen­tando o exercício profissional na maioria das atividades: A construção civil tem que contar com um engenheiro responsável; drogarias só funcionam com um farmacêutico credenciado, e o Direito só pode ser exercido por quem comprovou preparo junto à OAB. Seguindo tal lógica, e na ausência absoluta do bom senso dos profissionais que definem a programação, cada novela ou programa exibido deveria ter um pedagogo, um sociólogo e um psicólogo que assinaria e se responsabilizaria pelo conteúdo veiculado, reconhecendo a produção como um integrante da formação do pensamento, comportamento e do caráter humano.

Existe, sim, censura no Brasil, mas trata-se da censura ao bom senso, ao produto de qualidade, à opinião daqueles que gostariam que os meios de comunicação respeitassem as etapas do desenvolvimento emocional e cogni­tivo das crianças e jovens, e ao desejo de que os amplos recursos da TV fossem utilizados para desenvolver a cultura e o potencial dos indivíduos.

A TV Globo não se constrange em declarar que o subdesenvolvimento do Brasil é resultante da falta de investimentos na edu­cação. Porém, a educação não é o resultado único das escolas ou ambiente acadêmicos; é também uma produção social. O simples hábito de cultivar o pensamento e a reflexão pode ser definitivo na construção da capacida­de de atuar e se relacionar com o mundo, com­preender e transformar a realidade, inclusive capacitando para o exercício profissional, já que nem todas as profissões estão vinculadas a habilidades de nível superior. A TV poderia funcionar como o grande divisor de águas da história do Brasil, caso direcionasse seus me­lhores profissionais para produzir programas que ampliassem os conhecimentos gerais, po­líticos, culturais e de formação de valores. No entanto, criar os “Amigos da Escola” que atuam em encontros esporádicos junto às crianças, enquanto promove um bombardeio ininterrupto no sentido contrário, só pode ser conceituado como atitude hipócrita.

A trajetória de sucesso da Rede Globo

A Rede Globo tem hoje 18 mil trabalha­dores em seus quadros e é líder de audiência quase desde sua fundação, em 1965. O marco desta liderança se deu a partir de um aconteci­mento trágico: a inundação da cidade do Rio de Janeiro, que foi transmitida em tempo real pela emissora.

Durante a ditadura, que fechou a TV Excelsior por se contrapor ao Regime Militar, a Globo se aliou aos poderosos do momento e consolidou-se como grande potência, justa­mente durante os 20 anos da repressão.

Sua ligação com os grandes nomes da política nacional é conhecida e há provas e depoimentos de manipulação de informações para privilegiar determinados grupos. Dificil­mente a população pode se dar conta de que seu pensamento é conduzido por uma seleção de informações, mas o relato de jornalistas de­mitidos na última eleição para presidente, onde a emissora se pautou por uma linha de defesa do candidato Geraldo Alckmin, repete o relato de denúncias de manipulação há décadas, que podem ser conhecidas através do documentário produzido pela BBC de Londres sobre a mais poderosa emissora brasileira.

A Rede Globo não é a única emissora a veicular conteúdos impróprios, indesejáveis ou inadequados, mas sua liderança histórica faz dela a maior responsável, considerando que criou e explorou o estilo, hoje copiado por grande parte dos concorrentes.

Chico Buarque declarou em entrevis­ta que o poder da Globo é tão grande que o assusta. Portanto, cabe à população exigir o fim da censura política (que existe na prática) e defender a regulamentação que considere a responsabilidade social dos meios de comu­nicação, deixando de temer a linha de defesa adotada pelas emissoras que se protegem insu­flando o medo do retorno à censura e calando os debates que deveriam definir os limites da liberdade que usufruem.

O Brasil conquistou a tecnologia para se comunicar. Falta ainda conquistar a compre­ensão da dimensão e implicações da comuni­cação. Sob o pretexto de estarem retratando a sociedade através da TV, é a sociedade que vai adquirindo e reproduzindo os valores de uma minoria imposta como modelo por profissio­nais negligentes e alheios às conseqüências sociais de sua atuação. Ao permitir que autores e redatores imponham suas bandeiras e padrões à sociedade, fica claro que não há Criança Esperança que dê jeito.

Fonte:

http://www.ojg.com.br/index.php?mod=article&cat=materiasdecapa&article=135

(Erinaldo Alves)



Comentários

Fernando Aguiar disse…
PARABÉNS!
O ENSINANDO ARTES VISUAIS vem ensinando a arte do pensar de maneira fantástica! Por favor, não parem.É interesante observar num site sobre artes visuais algo que deveríamos encontrar, deveríamos, em sites de igrejas, de escolas, e outros movimentos que no fundo, conseguem se fazer apenas de fachada e não vão além.
Obrigado.

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