Pular para o conteúdo principal

Como fazer um bom texto.

Transponho adiante um breve texto escrito por Vera Luna, professora aposentada da área de Letras, quando era minha aluna, na disciplina História do Ensino das Artes Visuais, no período 2008. Seu texto foi originalmente publicado no blog "envolvartes" criado pela turma para ser o portfólio digital dos registros das discussões vivenciadas na referida disciplina. O endereço é
http://envolvartes.blogspot.com/2008/08/como-fazer-um-bom-texto.html.

Erinaldo Alves

COMO FAZER UM BOM TEXTO

Atendendo a um pedido do Professor Erinaldo, vou tentar resumir em poucas palavras o que é fundamental para se escrever um bom texto.
Em primeiro lugar, é preciso saber que a linguagem escrita é bem diferente da falada. A linguagem escrita emprega recursos bem específicos, até para suprir a ausência do interlocutor, que num diálogo está pronto para repetir, tirar dúvidas, recorrendo a entoações, produzindo sentidos também pelos gestos, etc. Os recursos de que se vale a escrita são, por exemplo, a pontuação, a estruturação das idéias, a coesão e a coerência, a correção gramatical, tudo isso como mecanismos para tornar o texto mais claro e compreensível, atingindo o objetivo de comunicar. Assim, muitas vezes, o grande problema de um texto é transpor simplesmente a linguagem falada para a linguagem escrita, ressaltando, no entanto, que a linguagem falada e informal pode ser usada dependendo do tipo de texto.
Em segundo lugar, não podemos deixar de considerar a questão dos gêneros textuais ou da tipologia dos textos. Cada tipo de texto requer uma estrutura e uma linguagem específica. Um texto acadêmico, por exemplo, é diferente de uma ata ou de uma crônica; um editorial jornalístico de uma carta amorosa e assim por diante. O texto acadêmico enquadra-se na linguagem científica ou técnica, que segue determinados padrões, exigindo-se, principalmente, uso da linguagem formal, uso do padrão culto, isto é, correção gramatical, além de clareza e objetividade. Distancia-se muito, como podemos comprovar, de um texto literário que se utiliza de metáforas, transgressões lingüísticas, inversões, já que literatura é arte e arte é liberdade. Esclarecidos esses dois pontos, como fazer um bom texto?
Começaria lembrando o que faz um texto ser um verdadeiro texto. Um texto tem coerência de sentido. Não é um amontoado de frases, ou seja, as frases não estão dispostas umas após outras, mas estão relacionadas entre si. O sentido de uma frase depende do sentido das demais com que se relaciona. É necessário sempre levar em conta o contexto, que pode vir explicitado por palavras ou pode estar implícito na situação concreta em que é produzido. Todo texto expressa um pronunciamento dentro de um debate mais amplo e é produzido por um sujeito num dado momento histórico e num espaço determinado.
Dois fatores são de importância fundamental na constituição de um bom texto: a coerência textual, que deve ser entendida como a unidade do texto. Um texto coerente é um conjunto harmônico, em que todas as partes se encaixam de modo que não haja nada destoante, nada ilógico, nada contraditório, nada desconexo; e a coesão textual, que é a conexão interna entre os vários enunciados presentes no texto, ou o modo como os componentes da superfície textual, isto é, as palavras e frases que compõem um texto encontram-se conectadas entre si numa seqüência linear, por meio de conjunções ou outros conectores, repetições, substituições, elipses, enfim, por referência ou por seqüenciação.
Podemos apontar, ainda, outro recurso importante na construção de um bom texto: a sua estrutura organizada em blocos ou parágrafos e vale aquela regra antiga: para cada idéia um parágrafo. Se possível, parágrafos curtos e também períodos curtos, que favorecem a clareza do texto. A correção gramatical (pontuação, concordância, ortografia) também vai contribuir muito para a perfeita compreensão de um texto. Finalmente, é necessário revisar, lapidar, encontrar a palavra certa, cortar excessos, buscando um texto conciso, claro, objetivo e sedutor.
Vera Luna

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CULTURA E BELEZA...

Os padrões estéticos são diferentes para diversos povos e épocas. Muitas vezes o que consideramos algo bizarro e feio, para alguns povos é algo com significado especial e uma busca por outro padrão de beleza. Na África diversos povos possuem algumas práticas e costumes que podem parecer bizarros para os ocidentais. O povo Mursi, na Etiópia, costuma cortar o lábio inferior para introduzir um prato até que o lábio chegue a uma extensão máxima, costuma pôr também, no lóbulo da orelha. Ao passar dos anos, vão mudando o tamanho da placa para uma maior até que a deformação atinja um tamanho exagerado. Tais procedimentos estão associados a padrões de beleza.[...] As mulheres do povo Ndebele, em Lesedi, na África, usam pesadas argolas de metal no pescoço, pernas e braços, depois que casam. Dizem que é para não fugirem de seus maridos e nem olharem para o lado. Esse hábito também pertence as mulheres do povo Padaung, de Burma, no sudoeste da Ásia, conhecidas como “mulheres girafas”. Segundo a t

Iluminogravuras de Ariano Suassuna

1) Fundamentos da visualidade nas imagens de Ariano Suassuna: - É herdeiro de uma visão romântica: “invenção de uma arte tipicamente nacional”. - O nordeste surge como temática privilegiada no modernismo, especialmente, após a década de 1930; - Ariano acredita que a “civilização do couro” gestou nossa identidade nacional; - Interesse por iluminuras surgiu a partir de A Pedra do Reino 2)Iluminuras Junção de Iluminuras com gravuras. É um tipo de poesia visual: une o texto literário e a imagem. Objeto artístico, remoto e atual, que alia as técnicas da iluminura medieval aos modernos processos de gravação em papel. 3) Processo de produção de iluminuras Para confeccionar o trabalho, Ariano produz, primeiro, uma matriz da ilustração e do texto manuscrito, com nanquim preto sobre papel branco. Em seguida, faz cópias da matriz em uma máquina de gráfica offset; Depois, cada cópia é trabalhada manualmente: ele colore o desenho com tintas guache, óleo e aquarela, por meio do pincel. - Letras – ba

RCNEI - Resumo Artes Visuais

Introdução: As Artes Visuais expressam, comunicam e atribuem sentidos a sensações, sentimentos, pensamentos e realidade por vários meios, dentre eles; linhas formas, pontos, etc. As Artes Visuais estão presentes no dia-a-dia da criança, de formas bem simples como: rabiscar e desenhar no chão, na areia, em muros, sendo feitos com os materiais mais diversos, que podem ser encontrados por acaso. Artes Visuais são linguagens, por isso é uma forma muito importante de expressão e comunicação humanas, isto justifica sua presença na educação infantil. Presença das Artes Visuais na Educação Infantil: Idéias e práticas correntes. A presença das Artes Visuais na Educação Infantil, com o tempo, mostra o desencontro entre teoria e a prática. Em muitas propostas as Artes Visuais são vistas como passatempos sem significado, ou como uma prática meramente decorativa, que pode vir a ser utilizada como reforço de aprendizagem em vários conteúdos. Porém pesquisas desenvolvidas em diferentes campos das ciê