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A homenagem da igreja ao Dia da Mulher

Caríssimas Mulheres do Blog

Comemorar o dia internacional da mulher é também olhar o que o mundo ainda pensa e faz com as nossas vidas!

Beijos paulistanos

Mirca Bonano


(09.03.09)

Berna (Suiça) Por Rui Martins, jornalista


Com alguns dias de antecedência, o arcebispo de Olinda e Recife prestou sua homenagem às mulheres brasileiras, representadas em duas gerações – mãe e filha. Excomungou a mãe por ter permitido à sua filha de nove anos abortar dois fetos gêmeos gerados no estupro cometido pelo padrasto. E o Vaticano completou a homenagem ratificando a decisão do arcebispo que inclui a excomunhão dos médicos praticantes do aborto.


As mulheres brasileiras deveriam colocar no altar das homenagens ao Dia Mundial da Mulher essa decisão clerical digna da Idade Média, quando as mulheres eram queimadas em praça pública suspeitas de feitiçaria, seja por olharem os homens de frente, seja por gozarem mais de uma vez, seja por gritarem de prazer no coito e não pedirem perdão e nem se benzerem por tanto fogo infernal, do qual não deixavam participar seu confessor.


A hipocrisia tem um limite, amplamente ultrapassado com esse ato de excomunhão, sem nenhum valor prático mas grande em significado. Contam que, pouco antes de morrer, Voltaire, o líder francês dos Anos Luzes, recebeu a visita de um padre desejoso de lhe dar a extrema-unção e redimir o ateu impenitentte num ato de contrição. O irônico e cínico Voltaire lhe perguntou – “vem da parte de quem ?” ao que o padre respondeu – “sou um representante de Deus”. Ao que Voltaire, mesmo nos seus últimos instantes, prontamente retrucou – “mostre suas credenciais ou saia deste quarto”.


Faz umas três semanas, na Itália, o pai de uma jovem mantida artificialmente em vida por 17 anos, autorizou que fossem desligados os aparelhos. A jovem tinha 23 anos quando foi vítima de um acidente de trânsito e, aos 40 anos, nunca mostrara nenhuma reação. O corpo mantinha suas funções mecânicas básicas mas o cérebro deixara de funcionar.


Silvio Berlusconi, o fanfarrão que dirige a Itália e que acaba de relançar as mílicias fascistas dos anos 30 de Mussolini, encarregadas da caça aos imigrantes ilegais, teve uma frase que emocionou os italianos – “é uma mulher que pode mesmo ter filhos!”. Quem senão ele poderia pensar na hipótese de fazer um filho, de se aproveitar do corpo de uma mulher em coma permanente? Só mesmo num filme de Almodovar acontece esse gesto, que não chega a ser de necrofilia, porque a personagem fica grávida em coma.


Pois bem, quando a jovem morreu por ter sido desligado o aparelho que a mantinha em vida artificial, a Igreja católica promoveu vigílias e fez protestos com seus devotos contra o “assassinato” cometido. Não sei se houve também excomunhões. A pretexto do que? Da defesa da vida, mas que vida? A vida artificial mantida por tubos, máquina ligada, remédios, sofrimento que teria a jovem se seu cérebro já não tivesse se desligado?


André Malraux fez uma profecia, que parece ser mais uma maldição que um vaticínio – “o próximo século será religioso ou não será!”. A religião que vai ganhando espaço no nosso planeta, não só no Brasil, é sinônimo de reacionarismo, de um tenebroso retorno às superstições, às crendices, ao irracional e isso envolve não só o catolicismo, hoje guiado por um papa medieval, que poderá provocar mesmo um racha aqui na Europa, como o integrismo muçulmano, no qual a mulher não tem ainda a dignidade de ser humano, e no integrismo da religão judáica, insuportável para muitos israelenses que deixam Jerusalem para ir viver na atmosfera mais livre de Telavive.


O arcebispo de Olinda e Recife, nada a ver com o falecido dom Helder Câmara, queria que a menina de nove anos desse à luz, o que poderia provocar sua morte, para nascerem os gêmeos concebidos numa violação, que seriam órfáos de mãe e filhos de um estuprador na prisão. Onde a chamada piedade cristã, o amor, o respeito à dignidade humana? Não se trata de um desvio sádico?


Durante a guerra na ex-Iugoslávia, quando as tropas raivosas de sérvios invadiam a Bósnia muçulmana e vice-versa, descarregavam seu estresse de guerra, violando as mulheres dos seus inimigos. E como muitas ficaram grávidas, perguntaram aos dirigentes religiosos católicos ortodoxos e muçulmanos se poderiam abortar, sendo-lhes respondido que deveriam parir o fruto do crime de que tinham sido vítimas, amamentar e criar a descendência do seu violador.


As mulheres que, ainda ontem não tinham o direito de votar, que são apedrejadas em muitos países muçulmanos quando suspeitas de adultério, jogadas na rua quando morre seu marido indiano, que, há apenas trinta anos conseguiram, na França, o direito do ventre livre e de dispor do seu útero, ainda têm um bom caminho pela frente para poderem comemorar seu Dia mundial.


Milhões delas ainda são obrigadas a esconder seu corpo dentro da burca, milhares são enterradas vivas até o pescoço para serem apedrejadas ou presas por não cobrirem a cabeça e rosto com o chador, enquanto no nosso evoluído Ocidente são obrigadas a guardarem no seu ventre o fruto de estupros, violações ou prostituição sob pena de serem condenadas etenamente ao fogo do inferno.


Parodiando Marx, poderíamos dizer – mulheres de todo mundo, uni-vos contra a mentira e a enganação.


(*) Artigo originalmente publicado no saite Direto da Redação, editado em Miami (EUA). Publicado em 09/03/2009 so site http://www.xn--espaovital-r6a.com.br/

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