Creio que quase tudo que se pode dizer sobre Dorian Gray já foi dito. Sobre o homem e sobre o poeta – da palavra e das formas visuais. Pelo seu merecimento, como entendo, quase nada restou a dizer. Talvez, então, eu devesse falar sobre como tenho me exercitado em passar de mero admirador a amigo e como esta amizade me fez aprofunda-me ainda mais na admiração do artista. Mas os sentimentos criados nesta relação não devem ser objeto deste texto. Aqui, cabe anotar sobre o prazer que tive em organizar uma exposição que o homenageia, prazer aumentado pela situação de fazê-lo junto a ele e à sua família. As ações de arrolar obras do acervo do SESC, que promove a exposição, escolher outras na pinacoteca do artista, não se constituíram num trabalho, mas num jogo em que todos ganham, inclusive o público que poderá ver, mais uma vez, fazer contato com a grande obra deste homem gigantesco.
Baseado na idéia de que Dorian Gray possui muitas faces, procurei formatar uma exposição que mostrasse as tantas faces que ele possui como artista e visual, mesmo que trabalhando apenas com obras bidimensionais. Este partido nos levou a mim, ao próprio Dorian e a seu filho Adriano, a listar as obras de acordo com os meios técnicos com os quais o artista, o verdadeiro “operário que ama a sua ferramenta”, vem trabalhando ao longo de sua carreira. Desta forma, criaram0se três seções em que se agruparam, na primeira, as obras de tapeçaria, a maior parte pertencente ao acervo do SESC; na segunda, pinturas feitas com materiais diversos, como o óleo, a aquarela e a pintura sobre cerâmica; e, finalmente, na terceira seção, uma mostra da obra gráfica do artista, com trabalhos de desenho direto e de gravura.
Ao longo da exposição é possível apreender como o artista define sua personalidade gráfica e pictórica, tão variada, mas que chega à excelência onde quer que vá. Em seu conjunto, as obras fazem ler a variada e inteligente vibração dada à sinuosidade das linhas, a elegância com que as composições ganham ora a verticalidade dos casarios, ora a horizontalidade das marinhas e como se transita dos intensos contrastes cromáticos à sutileza das gradações, quase em cinza, de alguns trabalhos mais recentes. Com isto, outro intento da exposição é reapresentar Dorian Gray como um mestre em seu ofício, assim como reafirmar seu nome na história da arte e da cultura do Rio Grande do Norte. É uma reiteração que se faz sem o pejo de que pareça demasiada, ao tempo em que com o orgulho de poder fazê-la diretamente.
Vicente Vitoriano
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