Pular para o conteúdo principal

ainda os clichês




Na última semana tentei alinhavar uma discussão em torno do uso, nem sempre coerente ou mesmo apropriado, de metáforas para nomear obras de arte ou exposições. Em geral, estas metáforas que, na verdade, repercutem uma prática acadêmica, soam como pretensões poéticas ou titubeiam na apropriação de termos emprestados das ciências exatas e naturais. Continuando a discussão, quero afirmar que não sou exatamente contra o uso destas expressões. Sou contra a sua insuficiência teórica ou a falta de solidez na sua relação com aquilo a que está querendo se referir, falhas que decorrem da superficialidade com que artistas e críticos tratam formulações teóricas nem sempre muito fáceis de assimilar.
Com a crise do formalismo crítico, dada em função das mutações sofridas pelas artes visuais na sua passagem para o atual estágio de contemporaneidade, a crítica de arte viu-se forçada a lançar mãos de instrumentais alheios ao universo artístico. Assim, passou a ampliar abordagens lingüísticas, psicanalíticas e sócio-políticas, apoiando-se nas contribuições de vários intelectuais ditos pós-estruturalistas, mormente no que diz respeito à teoria da desconstrução, esta dirigida originalmente para a análise literária.
Ora, a própria arte conceitual e seus desdobramentos, profundamente imbricados com a palavra, pareceu mesmo solicitar para seu comentário, o intercurso da crítica com tal arcabouço teórico-metodológico. Uma vez que os próprios artistas, desde há muito, mas com maior intensidade desde o modernismo, vinham se incumbindo, eles mesmos, de discutir sua própria obra, não foi inesperado que a moda desconstrucionista também os atingisse.
Essa situação tornou imperioso, para muitos, que críticos e artistas deveriam dominar um tipo específico de discurso em que a terminologia própria dos filósofos pós-modernos preponderasse. Nada contra, repito, mas esta exigência não tem tido uma resposta eficiente em termos da formação dos implicados, não obstante esforços dos cursos de formação de artistas em todo o mundo. Saber falar ou escrever sobre o que faz é, hoje, então, uma habilidade pelo menos desejável no artista e significa dar à arte uma dimensão racionalista distanciada daquela em que o artista apenas “põe pra fora”. Enfim, o fato é que o expressionismo romântico tomou conta deste novo discurso e o que se lê são formulações próximas do surreal. Quero, por fim, dizer que de nada adianta “esbanjar português” em falatórios no fim das contas vazios, da mesma forma que não adianta macaquear meios, técnicas e temáticas contemporâneos quando não se compreende a relação mesma entre estes e a arte.


Ponto e linha

Dois eventos têm lugar nestes dias no DEART/UFRN. O primeiro deles é o ECO AR que constará, amanhã e depois, de várias oficinas e apresentações artísticas. Informe-se mais em http://www.ecoar2009.blogspot.com.

O segundo evento, promovido pelo projeto Arte na Escola, é um curso de formação continuada para professores de arte que começa neste sábado e tem continuidade no próximo dia 28. Mais informações pelo fone 3215 3553.

O SESC programa para o próximo dia 27 a abertura da exposição “O operário que ama”, retrospectiva em homenagem a Dorian Gray Caldas. A exposição terá lugar no Natal Shopping, no espaço que vinha sendo utilizado pelo SEBRAE.

Foi lançado o edital para concorrência de pauta da Galeria Conviv’art, para o segundo semestre de 2009. As inscrições têm prazo até 8 de maio. Mais informações no Núcleo de Arte e Cultura da UFRN ou pelo telefone 3215 3237.

Ilustra esta edição MDHM 06, de Vicente Vitoriano. Versão fotográfica de Mr. Duchamp Handmade 02. Grafite, nanquim e aquarela sobre couchet. 2008.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CULTURA E BELEZA...

Os padrões estéticos são diferentes para diversos povos e épocas. Muitas vezes o que consideramos algo bizarro e feio, para alguns povos é algo com significado especial e uma busca por outro padrão de beleza. Na África diversos povos possuem algumas práticas e costumes que podem parecer bizarros para os ocidentais. O povo Mursi, na Etiópia, costuma cortar o lábio inferior para introduzir um prato até que o lábio chegue a uma extensão máxima, costuma pôr também, no lóbulo da orelha. Ao passar dos anos, vão mudando o tamanho da placa para uma maior até que a deformação atinja um tamanho exagerado. Tais procedimentos estão associados a padrões de beleza.[...] As mulheres do povo Ndebele, em Lesedi, na África, usam pesadas argolas de metal no pescoço, pernas e braços, depois que casam. Dizem que é para não fugirem de seus maridos e nem olharem para o lado. Esse hábito também pertence as mulheres do povo Padaung, de Burma, no sudoeste da Ásia, conhecidas como “mulheres girafas”. Segundo a t

Iluminogravuras de Ariano Suassuna

1) Fundamentos da visualidade nas imagens de Ariano Suassuna: - É herdeiro de uma visão romântica: “invenção de uma arte tipicamente nacional”. - O nordeste surge como temática privilegiada no modernismo, especialmente, após a década de 1930; - Ariano acredita que a “civilização do couro” gestou nossa identidade nacional; - Interesse por iluminuras surgiu a partir de A Pedra do Reino 2)Iluminuras Junção de Iluminuras com gravuras. É um tipo de poesia visual: une o texto literário e a imagem. Objeto artístico, remoto e atual, que alia as técnicas da iluminura medieval aos modernos processos de gravação em papel. 3) Processo de produção de iluminuras Para confeccionar o trabalho, Ariano produz, primeiro, uma matriz da ilustração e do texto manuscrito, com nanquim preto sobre papel branco. Em seguida, faz cópias da matriz em uma máquina de gráfica offset; Depois, cada cópia é trabalhada manualmente: ele colore o desenho com tintas guache, óleo e aquarela, por meio do pincel. - Letras – ba

RCNEI - Resumo Artes Visuais

Introdução: As Artes Visuais expressam, comunicam e atribuem sentidos a sensações, sentimentos, pensamentos e realidade por vários meios, dentre eles; linhas formas, pontos, etc. As Artes Visuais estão presentes no dia-a-dia da criança, de formas bem simples como: rabiscar e desenhar no chão, na areia, em muros, sendo feitos com os materiais mais diversos, que podem ser encontrados por acaso. Artes Visuais são linguagens, por isso é uma forma muito importante de expressão e comunicação humanas, isto justifica sua presença na educação infantil. Presença das Artes Visuais na Educação Infantil: Idéias e práticas correntes. A presença das Artes Visuais na Educação Infantil, com o tempo, mostra o desencontro entre teoria e a prática. Em muitas propostas as Artes Visuais são vistas como passatempos sem significado, ou como uma prática meramente decorativa, que pode vir a ser utilizada como reforço de aprendizagem em vários conteúdos. Porém pesquisas desenvolvidas em diferentes campos das ciê