Um panorama deveria mostrar seu objeto em perspectiva o mais amplamente possível. O Panorama das Artes Visuais – RN, exposição resultante dos diversos prêmios sob o título genérico de Prêmio Thomé Filgueira, quase chega lá. É que, não obstante a grande variedade e a bem razoável qualidade dos trabalhos exibidos, algumas ausências de gêneros ou categorias de obras impedem esta visualização completa. Refiro-me ao fato de não existirem obras em vídeo ou performance, por exemplo, que já possuem um certo espaço na produção local. Por parte da organização do Panorama, talvez tenha faltado tempo hábil para maior divulgação e estímulo à participação de artistas que atuam com estes meios. Mesmo assim, o que temos permite algumas considerações, mormente em comparação com os demais Salões abertos em 2008. Deve-se mencionar, entretanto, que o artista Ivo Maia realizou performance com os objetos de sua instalação “Mata sede”, na ocasião da abertura da exposição.
A primeira evidência, gritante, diga-se, é a de que não dispomos de espaços adequados para mostras desta natureza. O Panorama parece bem acomodado na Galeria Newton Navarro e nos terraços que ladeiam o solarium do prédio onde se instala a Fundação José Augusto, mas a sensação é a de que os ambientes parecem “emprestados” ou não suficientemente próprios para tanto. Isto já havia sido bem (ou mal) visto na montagem do II Salão Abraham Palatnik de Artes Visuais, na Biblioteca Câmara Cascudo e não é de hoje que se reclama das galerias da Capitania das Artes onde se mostram os Salões da Cidade. Aguardem-se, para amenizar este problema, o Centro Integrado de Arte, prometido pela nova administração da Capitania, ou a galeria do Departamento de Artes da UFRN, a ser incorporada às suas futuras instalações, previstas para 2010.
É também muito visível a importância que o desenho assume neste Panorama, confirmando o que entendo por uma tradição gráfica norte-rio-grandense. Para que se tenha uma idéia, os três prêmios mais importantes (Governador do Estado) foram conferidos a trabalhos de três desenhistas, a saber, Flávio Freitas, Hannah Lauria e Vicente Vitoriano. É possível cogitar-se que esta premiação deve-se ao fato de a comissão julgadora ter sido composta por três outros importantes desenhistas, ou sejam Afonso Martins, Célia Albuquerque e Fernando Gurgel. Uma análise ligeira pode mostrar, porém, que os trabalhos em desenho ou em que este meio se apresenta como fundamento são de fato bons, como se observa em Ilkes Peixoto e Leandro Garcia, ou nos gravadores Alexandre Gurgel, Clayton Marinho e Cláudio Damasceno. Vejam-se ainda os trabalhos de Águeda Ferreira, Alexandrina Viana, Conceição Oliveira e mesmo de Genildo Mateus, Gilson Nascimento e Newton Avelino, que apresentam obras categorizadas como pintura. Tendo em vista esta base gráfica, podem-se acrescer também os trabalhos de Max Pereira (assemblage de dobraduras) e de Wendel Gabriel (objetos metálicos). Não por acaso, os três trabalhos de Wendel Gabriel são intitulados de “Gráfico”.
A fotografia, grande estrela dos outros salões, resume-se aos dois trabalhos de Vinícius Dantas. Ela ainda está presente, mas não como meio “principal”, nas colagens de Vicente Vitoriano e nas infografias de Marinho e Sofia Porto. Certamente, foram fotografias que originaram o tríptico “Eu e meu irmão, meu irmão e eu”, de Luiz Élson Dantas, um dos poucos trabalhos de pintura neste Panorama, ao lado dos de Jota Medeiros, Joaquim Soares, Kelton Wanderley, Laércio Eugênio, Mário Sérgio e Ricardo Cerqueira (veja imagem de sua obra "Festa", neste post).
Uma boa seção da mostra é encontrada nos objetos realizados por Diego Medeiros (veja imagem), Jean Sartief e Nayara Costa. Estes artistas compõem um claro diferencial, não só pelo uso dos materiais como pela inteligente carga conceitual presente em seus trabalhos, além da interatividade comum a todos.
Veja-se.
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