Pular para o conteúdo principal

UM OLHAR INCOMUM SOBRE AS FAVELAS...

A cidade e suas margens


Com fotografias e vídeo de Elisa Bracher, a mostra registra habitações da Favela da Linha, em São Paulo, e as casas de origem de alguns de seus habitantes, na região Nordeste do país: Alagoas, Bahia, Ceará, Fortaleza, Paraíba, Pernambuco e Piauí.

Obra sensível que permite uma leitura das vivências, emoções e sociabilidade dos indivíduos, as 70 imagens feitas em 2007, de cunho antropológico e social, captam momentos em que a comunidade revela suas singularidades e criatividade nas formas e cores das casas e barracos.


A mostra busca refletir sobre as condições improvisadas de habitações na metrópole, que embora precárias e feitas com resíduos e materiais industrializados disponíveis, revelam inventividade expressiva de soluções.

Também estará em exibição um DVD (28:33) que documenta a visita de Elisa Bracher às famílias dos moradores da Favela da Linha em 16 localidades do Nordeste.



A história

Durante os últimos cinco anos, Elisa Bracher manteve um vínculo intenso com os moradores da Favela da Linha, localizada no entorno do Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), no bairro Vila Leopoldina, em São Paulo. Esse contato foi iniciado pela proximidade entre a comunidade e seu atelier, que passou a chamar a atenção dos habitantes da região. Assim foi criado o Ateliê Acaia, um espaço de convivência e atividades que, através do ensino da arte, auxilia crianças e jovens que vivem no local e suas famílias.

Devido ao crescente desenvolvimento imobiliário do bairro, os moradores da Favela da Linha, que ocupam o espaço há cerca de 40 anos, passaram a sofrer grande pressão das construtoras e da administração pública para deixarem o local. Nesse contexto, a artista realizou um levantamento fotográfico das casas para comprovar a quantidade de famílias residentes, como parte de um movimento por melhores condições de habitação.

Favela da Linha, em São Paulo

O conhecimento profundo da artista sobre a técnica da gravura conferiu às fotografias uma aparência muito próxima às impressões gráficas, que ultrapassam meros registros documentais. O resultado é uma obra sensível, que permite extrair uma leitura das vivências, emoções e da sociabilidade dos indivíduos, mesmo sem que nenhum deles apareça nas imagens.


Além disso, a mostra traz um olhar incomum sobre as favelas, que normalmente são vistas como redutos de pobreza onde reina a homogeneidade de construções. Trilhando o caminho contrário, Elisa Bracher buscou registrar momentos em que a comunidade revela suas singularidades, exprimindo a criatividade de seus moradores nas formas e cores das casas e barracos.

O estudo realizado na Favela da Linha deu origem a um segundo ensaio fotográfico, feito meses depois, em sete estados do Nordeste: Alagoas, Bahia, Ceará, Fortaleza, Paraíba, Pernambuco e Piauí. Elisa partiu em busca da origem de alguns dos migrantes que habitam a comunidade, registrando suas moradias da mesma maneira. O resultado obtido, no entanto, é completamente diferente. As casas são mais íntegras e menos amontoadas, o que permite enquadramentos mais amplos e a revelação de lugares, e mesmo de paisagens.



Comparando as duas séries, o curador Rodrigo Naves identifica um desdobramento do trabalho. “À fragmentação, precariedade e materialidade excessiva das moradias da Favela da Linha não subsiste nada que lhes dê guarida e amparo cultural”, diz ele. “Alheia a qualquer pretensão de erudição ou culturalismo, Elisa pôde ver com mais realismo como a unidade de nossa vida social se faz fundamentalmente de relações ásperas e descontínuas”.

A artista

Elisa Bracher (43) é escultora, gravadora e desenhista. Formou-se em Artes Plásticas pela Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), onde, desde 1989, passou a lecionar desenho e gravura. Conhecida por suas esculturas de grandes dimensões em madeira, metal e pedra, a artista despontou inicialmente como gravadora, em meados da década de oitenta. Desde então, sua produção de gravuras mantém um diálogo constante com seu trabalho escultórico.


Seus trabalhos estão expostos em diferentes locais públicos, como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, a Fundação Cultural de Curitiba, o Museu Nacional de Belo Horizonte, o Museu de Arte Moderna de Salvador e do Rio de Janeiro, e o Essex University Museum, na Inglaterra. Elisa Bracher é representada pelo Gabinete de Arte Raquel Arnaud desde 2003. Pela galeria, realizou exposições individuais em 2003 e em 2006 e integrou a coletiva ‘Olhar Seletivo’, em 2007.

Curadoria: Rodrigo Naves e Elisa Bracher
Abertura: 27 de setembro, das 11h às 13h
Visitação: 28 de setembro a 16 de novembro


Fonte:
http://www.mcb.sp.gov.br/mcbItem.asp?sMenu=P002&sTipo=5&sItem=1054&sOrdem=0 (Lm)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CULTURA E BELEZA...

Os padrões estéticos são diferentes para diversos povos e épocas. Muitas vezes o que consideramos algo bizarro e feio, para alguns povos é algo com significado especial e uma busca por outro padrão de beleza. Na África diversos povos possuem algumas práticas e costumes que podem parecer bizarros para os ocidentais. O povo Mursi, na Etiópia, costuma cortar o lábio inferior para introduzir um prato até que o lábio chegue a uma extensão máxima, costuma pôr também, no lóbulo da orelha. Ao passar dos anos, vão mudando o tamanho da placa para uma maior até que a deformação atinja um tamanho exagerado. Tais procedimentos estão associados a padrões de beleza.[...] As mulheres do povo Ndebele, em Lesedi, na África, usam pesadas argolas de metal no pescoço, pernas e braços, depois que casam. Dizem que é para não fugirem de seus maridos e nem olharem para o lado. Esse hábito também pertence as mulheres do povo Padaung, de Burma, no sudoeste da Ásia, conhecidas como “mulheres girafas”. Segundo a t

Iluminogravuras de Ariano Suassuna

1) Fundamentos da visualidade nas imagens de Ariano Suassuna: - É herdeiro de uma visão romântica: “invenção de uma arte tipicamente nacional”. - O nordeste surge como temática privilegiada no modernismo, especialmente, após a década de 1930; - Ariano acredita que a “civilização do couro” gestou nossa identidade nacional; - Interesse por iluminuras surgiu a partir de A Pedra do Reino 2)Iluminuras Junção de Iluminuras com gravuras. É um tipo de poesia visual: une o texto literário e a imagem. Objeto artístico, remoto e atual, que alia as técnicas da iluminura medieval aos modernos processos de gravação em papel. 3) Processo de produção de iluminuras Para confeccionar o trabalho, Ariano produz, primeiro, uma matriz da ilustração e do texto manuscrito, com nanquim preto sobre papel branco. Em seguida, faz cópias da matriz em uma máquina de gráfica offset; Depois, cada cópia é trabalhada manualmente: ele colore o desenho com tintas guache, óleo e aquarela, por meio do pincel. - Letras – ba

RCNEI - Resumo Artes Visuais

Introdução: As Artes Visuais expressam, comunicam e atribuem sentidos a sensações, sentimentos, pensamentos e realidade por vários meios, dentre eles; linhas formas, pontos, etc. As Artes Visuais estão presentes no dia-a-dia da criança, de formas bem simples como: rabiscar e desenhar no chão, na areia, em muros, sendo feitos com os materiais mais diversos, que podem ser encontrados por acaso. Artes Visuais são linguagens, por isso é uma forma muito importante de expressão e comunicação humanas, isto justifica sua presença na educação infantil. Presença das Artes Visuais na Educação Infantil: Idéias e práticas correntes. A presença das Artes Visuais na Educação Infantil, com o tempo, mostra o desencontro entre teoria e a prática. Em muitas propostas as Artes Visuais são vistas como passatempos sem significado, ou como uma prática meramente decorativa, que pode vir a ser utilizada como reforço de aprendizagem em vários conteúdos. Porém pesquisas desenvolvidas em diferentes campos das ciê