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Artistas dizem como preencheriam o andar vazio da Bienal

Essa matéria foi elaborada alguns dias antes da abertura da Bienal de São Paulo e mostra a visão de alguns artistas sobre o Pavilhão Vazio.


22/10/2008 - 15h51
da Folha de S.Paulo

A 28ª Bienal de São Paulo, que será aberta no domingo, terá um andar vazio para simbolizar sua crise; a Folha perguntou a artistas e curadores com o que preencheriam o espaço.

A imaginação.

A idéia de vazio ativo (Mira Schendel) e de vazio pleno (Lygia Clarck), que fazia parte de um dos 4 núcleos que propus no meu anteprojeto da 28ª Bienal contemplava a idéia de que o vazio é uma instância fundamental para a criação. Quando propus ao Ivo Mesquita de juntarmos os nossos projetos e ele sugeriu a idéia do andar vazio, que eu chamei de manifesto espacial, eu aceitei com a condição de que fosse um sinal para a segunda etapa da 28ª Bienal (que trataria do tema do vazio) e que durante essa primeira etapa fosse utilizado como um espaço educativo.

Minha proposta era ocupar o vazio com a imaginação das crianças. O importante para mim era fazer com que as pessoas percebessem que o vazio é uma instância fundamental do processo criativo. Meu desejo era ocupar o espaço com um projeto educativo (inclusive para adultos) que revisitasse a história da Bienal de São Paulo, criando, desta forma, um elo como o terceiro andar onde estariam os arquivos da Bienal e sua memória. Pensei que a solução seria utilizar recursos auditivos; circuitos auditivos associados a imaginação (como na música), inclusive convidando artistas que fizessem obras sonoras especificamente para o 2º andar de forma a "esculpir" ou dar forma ao andar vazio.

Penso que mais importante do que a idéia fenomenológica de suspensão é de ancorar o vazio como um elemento fundamental da realidade. O vazio do segundo andar deveria ser articulado como um espaço de concentração e não de dispersão.

Para mim, o importante era indicar como nos diz Strindberg que: "Tudo é possível e provável. Sob a fina base da realidade a imaginação tece novas formas".
[Márcio Doctors, curador]

Arte.
[Paulo Venâncio Filho, curador]

Ar.
[Beatriz Milhazes, artista]

Vejo-o como metáfora
da inexistência de uma política cultural ampla, sólida, regular, constante, civil, sem viés ideológico-partidário. Eu preferia ver o vazio da bienal discutido na entressafra, entre as bienais e não dentro dela. Tal como está, e se ficar de fato vazio, pode ser, no limite, uma proposta poética - e no poema dos outros não se mexe. Se esse vazio servir para arrancar a Bienal da inércia que a estrangula, terá sido um sucesso.
[Teixeira Coelho, curador e diretor do Masp]

Eu colocaria uns 500 sofás
no andar vazio assim pelo menos a gente poderia sentar um pouco. [Leda Catunda, artista]

Se o Duane Hanson
não tivesse morrido há 12 anos, o convidaria para fazer esculturas de alguns brasileiros de colarinho branco que freqüentaram a crônica policial e estiveram atrás das grades nos últimos anos. Fica a idéia para algum hiperrealista nativo. Vai ser uma mostra bem popular.
[Paulo Sérgio Duarte, curador]

O Vazio é apenas ilusório,
não há esvaziamento que nos leve ao grau zero, que anule ou cancele todos os significados, pois, ao contrário do que as aparências revelam, com o vazio descortinam-se as estruturas, mas o que fazemos com elas? Como transformá-las em questões realmente pertinentes?

Como evitar que o vazio seja apenas a falta de algo? Então, é necessário um outro gesto capaz de radicalizar a experiência para instaurar a consciência crítica. Portanto, ao esvaziarmos o Pavilhão da Bienal temos diante dos olhos a arquitetura modernista brasileira e suas utopias. E parece-me que isso ficou de lado em todas as discussões a respeito dessa Bienal. E foi a partir dessas idéias que, a convite de Ivo Mesquita para desenvolver o Projeto Educativo para esta Bienal, propus, em colaboração com Jorge Menna Barreto e Vitor César, desestabilizar a noção do Vazio como "síntese da negação e da ausência", conforme proposto pelos curadores.

Dentre outras questões, o projeto (abortado nas últimas semanas) visava potencializar o vazio a partir da construção do que chamo 'Parede Niemeyer', revestindo toda parede do fundo do segundo andar com espelhos para reverberar não só a arquitetura, mas nossas utopias, nossa história, para torná-la abismal. Niemeyer dentro de Niemeyer. O espelho, a meu ver, síntese da utopia moderna do arquiteto brasileiro, é também vigilante.

O espaço destinado à grande mostra bi-anual de arte no Brasil seria esvaziado para, com o espelho, se fazer perguntas. Como um grande ambiente oco, funcionaria como tímpano para uma operação de escuta. As reverberações no espelho forneceriam as bases para o questionamento crítico sobre nossa condição. Novamente a pergunta: Para onde olhamos? Para onde vamos? Todo projeto Educativo estaria então ancorado na idéia de que, se não incluirmos o contexto, se não questioná-lo, ficaremos sempre reféns de nossa própria história ou dependentes da história que nos chega de longe.
[Ana Maria Tavares, artista]

Nada.
É claro que não faltam obras para uma exposição, mas não é isso o que está em questão. Cada um faz a sua bienal e nas condições que lhe forem dadas. Não fazer é sempre uma delas. Assumir o vazio, nas circunstâncias em que se deu, foi uma decisão corajosa e deve ser respeitada.
[Luiz Camillo Osório, curador]

Talvez eu colocasse
uma zona de sensibilidade imaterial do Yves Klein. Sabemos que o espaço vazio adquire uma prioridade marcante com implicações estéticas e desdobramentos políticos.
Mas neste caso, o vazio não é da arte, o vazio é da instituição que está com sérios problemas circunstanciais, porque é mal gerida e não consegue perceber o seu papel.
[Solange Farkas, curadora e diretora do MAM da Bahia]

Acho que o fato de um andar
do prédio da Bienal ficar vazio durante o período da mostra é absolutamente adequado para o projeto curatorial de Ivo Mesquita. Ele é metáfora eloqüente da crise pela qual a instituição passa (que efetivamente limita as dimensões físicas do evento) e da vontade expressa de seu curador na presente edição em discuti-la e enfrentá-la. Minhas expectativas e meu desejo são de que esse espaço vazio realmente assuma a dimensão crítica com que foi pensado e que não seja reduzido à mera experiência imersiva na arquitetura do edifício.
[Moacir dos Anjos, curador]

Ou talvez
perguntando de forma mais abrangente: o que de fato deveria pertencer ao vazio da Bienal?
[José Rezende, artista]

Não colocaria coisa alguma,
o espaço vazio proposto deve mostrar ainda a que veio: se de um lado ele é conceitual, precisa manter-se mesmo vazio e funcionar como metáfora espacial de um ponto zero de atitudes e decisões, sem o que não ha espaço para renovação. De outro lado ele é um vazio físico, concretamente o espaço desocupado dos mil metros quadrados de um dos andares, dando presença apenas ao edifício ou a seus fantasmas. Este vazio arquitetônico é a própria corporificarão da circunstancia difícil de organizar um mega evento com prazos e recursos excessivamente curtos.

Entendi que Ivo Mesquita aceitou a curadoria desta Bienal para não deixar soçobrar uma instituição cuja importância e história ele respeita. Confio que a partir do que esta versão se propõe, como critica e reflexão com o olho no futuro, o vazio seja um lugar para a projeção de idéias conseqüentes das quais se possa extrair um modelo mais ativo, social e culturalmente.
[Regina Silveira, artista]

Disponível em : http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u458970.shtml

Karlene Braga

Comentários

Anônimo disse…
EU DISCORDO DE TODO MUNDO. BANDO DE BABÃO! BANDO DE BURGUESES! ARTE NÃO É SO VITRINE DE MUSEU! ARTE É DO POVO! A INVASÃO DOS PIXADORES FOI A COISA MAIS CERTA QUE ACONTECEU. E ACONTECEU POR PURA E ESPONTANEA VONTADE DO MOVIMENTO. COISA LINDA ISSO! O POVO TEM O PODER! A ARTE DO POVO!

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