Este blog, além de discutir as questões e propostas relacionadas ao ensino das artes visuais, pode ser também uma maneira de dar visibilidade às opiniões e provocações desencadeadas pela equipe docente do Departamento de Artes Visuais (DAV), da UFPB. O prof. Gabriel Bechara, integrante do nosso departamento, encaminhou o artigo abaixo para ser publicado, especialmente, no nosso blog. Trata-se de um artigo, rejeitado por alguns jornais locais, que trata de questões político-administrativas e que ensejam discussões e decisões de gestão pública e admininstrativa da universidade, que extrapolam a visão meramente eleitoral. Vale a pena ler, discutir e agir...
A Universidade Federal está de novo em tempo de campanha. As grandes mobilizações que haviam no passado, desde o final da ditadura, desapareceram e se transformaram em resignação e torpor. A expectativa de mudanças significativas voltadas para uma universidade mais comprometida com as demandas da sociedade, como era comum na retórica da época, se foram. Hoje limita-se a executar burocraticamente o que é traçado e exigido de Brasília, de forma talvez mais conformista e sem nenhum debate substancial como havia nos tempos dos generais-presidentes, no final do regime militar.Hoje a CAPES e o CNPQ, tem uma ingerência na universidade como nunca teve, mesmo comparado aos anos mais sombrios da ditadura militar. Esse foi o legado que o PT recebeu do PSDB e o segue hoje de forma a mais servil.
Mas existe um dado muito preocupante nesse modelo autoritário adotado pelos governos eleitos pelo voto direto. Instituições reguladoras como as supra-citadas exigem e julgam o desempenho docente com critérios cada vez mais rígidos de produtividade e pressupõem a existência de infra-estrutura básica, no mínimo razoável, e o setor de apoio dos funcionários com desempenho igualmente satisfatório.
Aqui é onde começa o problema. Graças ao sistema de eleições diretas para reitor que os sindicatos ganharam um poder que antes só era comparável ao dos setores de segurança e informação da ditadura militar .
Hoje a média dos funcionários não dá sequer meio expediente, ao contrário dos dois completos que haviam antes das eleições diretas nas universidades. Nenhum candidato a reitor desde a primeira eleição direta quer mexer nisso. Até mesmo a reitoria que antes trabalhava até às 18:00 se transformou num deserto após às 17:00.A lei do menor esforço tem cobertura garantida em todas as eleições, independente do candidato.Não se trata com isso de por em questão a idoneidade dos candidatos a reitor, mas de constatar que o modelo em que eles tem de operar os cerceiam antes mesmo deles serem eleitos.
A questão é que os órgãos reguladores da produtividade docente de Brasília não querem saber de assuntos internos das universidades, esperam apenas resultados. Na prática os professores acabam assumindo cada vez mais tarefas que não lhe dizem respeito, sob pena de serem avaliados negativamente. Mas ninguém quer saber de mexer nesse vespeiro, quer apenas votos...
Uma funcionária da UFPB conhecida minha foi transferida para São Paulo e locada da Faculdade Paulista de Medicina que é federal. Lá os funcionários dão dois expedientes , são obrigados a bater ponto e têm seu salário descontado se chegam mais de três vezes ao mês, dez minutos atrasados.Horrorizada ela pediu demissão pois não estava acostumada ao regime de trabalho...
Hoje a universidade brasileira está comprometida com os sindicatos e não com as demandas populares. Pior, com sindicatos que não apostam, infelizmente, no melhor para os trabalhadores, incentivando o ganho por produtividade, mas ao contrário, sendo complacentes com a lei do menor esforço, ao faz de conta, à indolência.
Como o governo federal não tem uma política de acompanhamento dos funcionários como tem dos professores, está se criando um fosso abissal entre o setor de apoio e a atividade docente expondo a instituição à um colapso iminente.
No setor administrativo, onde cada vez mais professores, em cargo de chefia, não tem gratificação, as tarefas burocráticas do setor de apoio acabam caindo sob os seus ombros.
Não é incomum encontrar um funcionário chegar às 14:00 e sair antes das 17:00. Não existe, rigorosamente, qualquer forma de punição. Todas os compromissos pessoais como médico, dentista e banco são resolvidos nesse expediente e as férias são tiradas durante o período de aulas quando eles são mais necessários. O comportamento do funcionário federal se municipalizou, no pior sentido do termo.Todos na universidade sabem disso, todos fingem que não vêem, mas ninguém fala por ser assunto tabu e quando falam é à boca pequena, pedindo reserva.
Nos debates entre candidatos a reitor esses assuntos não são tocados. Não é “politicamente correto” abordar temas tão melindrosos. Como a população que banca a Universidade e que espera serviço de qualidade não vota, quem decide são os sindicatos e sua rede de cabos eleitorais. Saímos das mãos da ditadura para cair nas mãos do sindicalismo paternalista. Mas foi para isso que tomamos as ruas para pedir a volta da democracia?
Gabriel Bechara Filho
Mas existe um dado muito preocupante nesse modelo autoritário adotado pelos governos eleitos pelo voto direto. Instituições reguladoras como as supra-citadas exigem e julgam o desempenho docente com critérios cada vez mais rígidos de produtividade e pressupõem a existência de infra-estrutura básica, no mínimo razoável, e o setor de apoio dos funcionários com desempenho igualmente satisfatório.
Aqui é onde começa o problema. Graças ao sistema de eleições diretas para reitor que os sindicatos ganharam um poder que antes só era comparável ao dos setores de segurança e informação da ditadura militar .
Hoje a média dos funcionários não dá sequer meio expediente, ao contrário dos dois completos que haviam antes das eleições diretas nas universidades. Nenhum candidato a reitor desde a primeira eleição direta quer mexer nisso. Até mesmo a reitoria que antes trabalhava até às 18:00 se transformou num deserto após às 17:00.A lei do menor esforço tem cobertura garantida em todas as eleições, independente do candidato.Não se trata com isso de por em questão a idoneidade dos candidatos a reitor, mas de constatar que o modelo em que eles tem de operar os cerceiam antes mesmo deles serem eleitos.
A questão é que os órgãos reguladores da produtividade docente de Brasília não querem saber de assuntos internos das universidades, esperam apenas resultados. Na prática os professores acabam assumindo cada vez mais tarefas que não lhe dizem respeito, sob pena de serem avaliados negativamente. Mas ninguém quer saber de mexer nesse vespeiro, quer apenas votos...
Uma funcionária da UFPB conhecida minha foi transferida para São Paulo e locada da Faculdade Paulista de Medicina que é federal. Lá os funcionários dão dois expedientes , são obrigados a bater ponto e têm seu salário descontado se chegam mais de três vezes ao mês, dez minutos atrasados.Horrorizada ela pediu demissão pois não estava acostumada ao regime de trabalho...
Hoje a universidade brasileira está comprometida com os sindicatos e não com as demandas populares. Pior, com sindicatos que não apostam, infelizmente, no melhor para os trabalhadores, incentivando o ganho por produtividade, mas ao contrário, sendo complacentes com a lei do menor esforço, ao faz de conta, à indolência.
Como o governo federal não tem uma política de acompanhamento dos funcionários como tem dos professores, está se criando um fosso abissal entre o setor de apoio e a atividade docente expondo a instituição à um colapso iminente.
No setor administrativo, onde cada vez mais professores, em cargo de chefia, não tem gratificação, as tarefas burocráticas do setor de apoio acabam caindo sob os seus ombros.
Não é incomum encontrar um funcionário chegar às 14:00 e sair antes das 17:00. Não existe, rigorosamente, qualquer forma de punição. Todas os compromissos pessoais como médico, dentista e banco são resolvidos nesse expediente e as férias são tiradas durante o período de aulas quando eles são mais necessários. O comportamento do funcionário federal se municipalizou, no pior sentido do termo.Todos na universidade sabem disso, todos fingem que não vêem, mas ninguém fala por ser assunto tabu e quando falam é à boca pequena, pedindo reserva.
Nos debates entre candidatos a reitor esses assuntos não são tocados. Não é “politicamente correto” abordar temas tão melindrosos. Como a população que banca a Universidade e que espera serviço de qualidade não vota, quem decide são os sindicatos e sua rede de cabos eleitorais. Saímos das mãos da ditadura para cair nas mãos do sindicalismo paternalista. Mas foi para isso que tomamos as ruas para pedir a volta da democracia?
Gabriel Bechara Filho
Fonte: e-mail recebido: Mon, 2 Jun 2008 10:40:06 -0300
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