Come into the (w)hole - Letras em recorte eletrônico - Arte Futura e Cia; Brasília, DF; Setembro 2002 - Foto: Juan Pratgnestós
1) O trabalho que você apresentou na bienal, intitulado “Morrendo de Rir”, lidava com a temática do riso, da gargalhada. São raros os artistas a lidarem com esse tema. A arte em nosso país se leva muito a sério?
É incrível que depois de séculos de discussão não se consiga fazer uma distinção entre o riso e a seriedade sem colocá-los como oponentes. O humor, como intenção sincera, pode ser uma atitude política concisa, sem ser dogmática, bastante conseqüente. O riso é uma manifestação humana genuína (das hienas também, é claro). É pura espontaneidade. Temos que respeitar mais a alegria. Me acostumei a ironizar até os piores dias da minha vida. Nossa existência já é uma tragédia, talvez através do humor consigamos perceber algo além da nossa auto-indulgência. Na arte, a procura da seriedade demasiada faz com que ocorra uma sacramentação de idéias que já foram fluidas, espontâneas, e isto pode ser bastante perigoso. A articulação exagerada pode colaborar para a perda do sentido da intuição, que percebo como a coisa mais importante em um trabalho de arte. Trabalho bastante para me desprover de certezas e, para me contradizer, tenho quase certeza, que no nosso tempo, não somos capazes de controlar totalmente as coisas. Por isto acho que devamos ser abertos para as contribuições do acaso e da intuição.
2) Em Morrendo de Rir você ri à beca; rir ainda é o melhor remédio?
Chorar também é bom, gritar também, eu gosto mais de rir.
3) O humor é uma constante em sua trajetória. Como se deu esta escolha estética?
No início da minha trajetória, só depois de uma série de trabalhos e alguns anos passados é que pude perceber que o humor na maior parte das vezes estava presente. Em alguns mais claramente. Era inerente, foi minha maneira de perceber o mundo, minha própria vivência contagiando o trabalho. Tentei fazer trabalhos bem sisudos mas não consegui.
4) Outro procedimento estético bastante presente em sua obra é o recurso à paródia. A paródia ainda é um instrumento subversivo?
Para quem? Para mim é uma maneira de neutralizar uma força contrária. E um procedimento usado para mudar um assunto que não me interessa. Redirecioná-lo, tornando-o mais interessante e agregando novos dados; possibilitando novas interpretações.
5) Você faz parte de uma geração de artistas que despontou nos anos 90, dentro do que se reconhece como sendo a condição pós-moderna. Qual a principal questão enfrentada por sua geração?
Ao contrário dos anos 60 e 70, nos anos 90 não estávamos mais sob uma ditadura militar e a polaridade comunismo x capitalismo e a guerra fria deixou de existir. Isso nos deixou mais livres para pensarmos nossa condição mais livremente. Isto possibilitou o aparecimento de trabalhos mais pessoais, intimistas e autobiográficos. Porém, tivemos que fazer a difícil pergunta: quem é o inimigo? A guerra então se conforma contra aquilo que está dentro de todos nós, a mesquinhez, a mediocridade, a ignorância, a ganância, o preconceito, o egoísmo, etc. Pudemos falar do individualismo, do coletivo, de uma ética abrangente com alguma maior liberdade, com menos censura. Mesmo assim minha geração ficou na gaveta por bastante tempo, sendo observada com restrições. No meu caso, já trabalho há 18 anos e não sei se pelo caráter das coisas que faço, entre elas a ironia e o humor, só agora começo a ter um feedback real em relação ao meu trabalho. Quanto à questão pós-moderna, com tudo que já se falou, acho que não fizemos ainda uma ruptura estrutural com o modernismo, e sim, talvez, alguns ajustes. Considero que ainda temos muito o que olhar para ele. Fui criado dentro de um ambiente moderno, e principalmente no Brasil, este ambiente, foi desenhado por arquitetos, faz parte da nossa formação cultural.
Fonte:
http://www.canalcontemporaneo.art.br/portfolio_geral.php%20c_lingua=P&c_tipo=3&c_artista=7
A seguir trechos da entrevista de Marcos Chaves à Graça Ramos, do Jornal Arte Futura.
1) O trabalho que você apresentou na bienal, intitulado “Morrendo de Rir”, lidava com a temática do riso, da gargalhada. São raros os artistas a lidarem com esse tema. A arte em nosso país se leva muito a sério?
É incrível que depois de séculos de discussão não se consiga fazer uma distinção entre o riso e a seriedade sem colocá-los como oponentes. O humor, como intenção sincera, pode ser uma atitude política concisa, sem ser dogmática, bastante conseqüente. O riso é uma manifestação humana genuína (das hienas também, é claro). É pura espontaneidade. Temos que respeitar mais a alegria. Me acostumei a ironizar até os piores dias da minha vida. Nossa existência já é uma tragédia, talvez através do humor consigamos perceber algo além da nossa auto-indulgência. Na arte, a procura da seriedade demasiada faz com que ocorra uma sacramentação de idéias que já foram fluidas, espontâneas, e isto pode ser bastante perigoso. A articulação exagerada pode colaborar para a perda do sentido da intuição, que percebo como a coisa mais importante em um trabalho de arte. Trabalho bastante para me desprover de certezas e, para me contradizer, tenho quase certeza, que no nosso tempo, não somos capazes de controlar totalmente as coisas. Por isto acho que devamos ser abertos para as contribuições do acaso e da intuição.
2) Em Morrendo de Rir você ri à beca; rir ainda é o melhor remédio?
Chorar também é bom, gritar também, eu gosto mais de rir.
3) O humor é uma constante em sua trajetória. Como se deu esta escolha estética?
No início da minha trajetória, só depois de uma série de trabalhos e alguns anos passados é que pude perceber que o humor na maior parte das vezes estava presente. Em alguns mais claramente. Era inerente, foi minha maneira de perceber o mundo, minha própria vivência contagiando o trabalho. Tentei fazer trabalhos bem sisudos mas não consegui.
4) Outro procedimento estético bastante presente em sua obra é o recurso à paródia. A paródia ainda é um instrumento subversivo?
Para quem? Para mim é uma maneira de neutralizar uma força contrária. E um procedimento usado para mudar um assunto que não me interessa. Redirecioná-lo, tornando-o mais interessante e agregando novos dados; possibilitando novas interpretações.
5) Você faz parte de uma geração de artistas que despontou nos anos 90, dentro do que se reconhece como sendo a condição pós-moderna. Qual a principal questão enfrentada por sua geração?
Ao contrário dos anos 60 e 70, nos anos 90 não estávamos mais sob uma ditadura militar e a polaridade comunismo x capitalismo e a guerra fria deixou de existir. Isso nos deixou mais livres para pensarmos nossa condição mais livremente. Isto possibilitou o aparecimento de trabalhos mais pessoais, intimistas e autobiográficos. Porém, tivemos que fazer a difícil pergunta: quem é o inimigo? A guerra então se conforma contra aquilo que está dentro de todos nós, a mesquinhez, a mediocridade, a ignorância, a ganância, o preconceito, o egoísmo, etc. Pudemos falar do individualismo, do coletivo, de uma ética abrangente com alguma maior liberdade, com menos censura. Mesmo assim minha geração ficou na gaveta por bastante tempo, sendo observada com restrições. No meu caso, já trabalho há 18 anos e não sei se pelo caráter das coisas que faço, entre elas a ironia e o humor, só agora começo a ter um feedback real em relação ao meu trabalho. Quanto à questão pós-moderna, com tudo que já se falou, acho que não fizemos ainda uma ruptura estrutural com o modernismo, e sim, talvez, alguns ajustes. Considero que ainda temos muito o que olhar para ele. Fui criado dentro de um ambiente moderno, e principalmente no Brasil, este ambiente, foi desenhado por arquitetos, faz parte da nossa formação cultural.
Fonte:
http://www.canalcontemporaneo.art.br/portfolio_geral.php%20c_lingua=P&c_tipo=3&c_artista=7
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