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Breve história da beleza feminina em imagens




Bombardeio de imagens

Os padrões de beleza, decorrentes em princípio da busca pelo parceiro mais adequado à propagação da herança genética, vêm sofrendo há milênios a influência da cultura. Segundo os estudiosos do assunto, o desejo de diferenciação social tem um papel de enorme importância na definição do que é belo: quanto mais afastado dos estratos subordinados e mais próximo das elites, mais bonito se é. "A polaridade, no caso da beleza corporal, enraíza-se em uma profunda rede de exclusões. Inacessível à maioria, o belo é um signo de distinção social para poucos", afirma a historiadora Maria Angélica Soler, da PUC de São Paulo. A história da beleza no Brasil oferece bons exemplos. No final do século XIX, mulheres com a compleição roliça de dona Domitila de Castro, a marquesa de Santos que enlouqueceu dom Pedro I de paixão, estavam longe de ser consideradas fora do padrão. Ao contrário. Corpos cheios, braços roliços e seios fartos, cobertos por uma macia camada adiposa, eram interpretados como sinônimo de afluência, por oposição à escravaria. A tez branquíssima contrapunha-se ao moreno e negro dos trabalhadores braçais. Na transição entre as décadas de 60 e 70, a figura libertária de Leila Diniz, bronzeada, em biquínis ousados, era a antípoda das mulheres recrutadas em massa pelo setor de serviços e trancafiadas em escritórios. Sentadas, na maior parte do tempo, essas mulheres viram seus corpos arriar. E o ideal passou a incorporar músculos bem delineados, já que o operário não tem tempo nem dinheiro para freqüentar academia de ginástica, contratar um personal trainer ou consultar um nutricionista. Foi assim que gordura se tornou traço de pobreza.

A existência de cânones de beleza não é, portanto, o que singulariza os tempos atuais. A feminista americana Naomi Wolf (autora de O Mito da Beleza) notou que o traço peculiar da época é que a mulher comum de antes da Revolução Industrial, confinada aos trabalhos domésticos e à vida social limitada ao bairro, possivelmente nunca experimentou o sentimento da mulher moderna em relação à beleza. "Esta vive o mito da beleza como uma contínua comparação com um ideal físico amplamente difundido." Wolf explica: "Antes da invenção de tecnologias de produção em massa daguerreótipos, fotografias, filmes etc. , uma mulher comum era exposta a poucas imagens dos tipos ideais de beleza feminina fora da igreja". O bombardeio de imagens dos dias atuais, somado à exuberância e variedade dos alimentos disponíveis nas prateleiras dos supermercados, congestiona as mulheres de complexos e desejos voltados para a conquista do corpo perfeito. Amanhã, de novo, todas elas estarão diante do espelho. Como todo dia.

Fonte: http://veja.abril.com.br/040298/p_062.html

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