Brinquedos são objetos semióticos que são produzidos e distribuídos globalmente por poderosas empresas multinacionais. Freqüentemente, transmitem mensagens para as crianças sobre o mundo social em que elas vivem. São produzidos como um sistema, que permite distinções quanto ao grau de realismo (ou abstração, ou exagero), com o qual representam elementos de práticas sociais. São, simultaneamente, ‘objetos’ para serem lidos como textos, e objetos para serem manipulados. Parte de seu significado é oferecido pelos designers da indústria. Podem, portanto, ter agendas explícitas e às vezes implícitas; neste sentido, brinquedos são um repositório das ideologias e ‘sistemas de valores’ sociais.
O objetivo deste artigo é focalizar os brinquedos que representam seres humanos (atores sociais) e comunicam significados específicos de gênero. Faremos referência à ligação entre objetos materiais, imagens e textualidade. Nosso principal interesse está nos significados sociais potenciais que diferenciam, especificamente, brinquedos de meninos de brinquedos de meninas e nos valores relacionados a tais representações. A pesquisa feminista parece não haver dispensado atenção suficiente aos brinquedos como uma área extremamente importante em termos de representação. Assim, nosso objetivo é começar a expor e a desafiar significados sexistas e situar os brinquedos como comunicação na agenda feminista.
Figura 1 – Fotografias de Ken e Barbie’s tiradas do catálogo da Barbie; fotos de The Rock e de Jacqueline’s tiradas das caixas dos brinquedos.
Na figura 1, temos quatro representações de atores sociais criados (em princípio) para crianças. Teoricamente, qualquer criança poderia optar por brincar com qualquer um deles. Na realidade, porém, meninos tendem a não brincar com Ken; meninas tendem a não brincar com Jacqueline. Ouvimos de um pai que ele ficaria horrorizado se seu filho de 10 anos preferisse brincar com Barbies. O maravilhoso filme francês Ma Vie em Rose, dirigido por Alan Berliner, mostra muito bem o conflito vivido pelos pais que são confrontados com as escolhas feitas por seu filho em termos de identidade de gênero. No filme, o menino começa a revelar sua identidade através de sua escolha de brinquedos (ele brinca com Barbies, ou bonecas similares): seu mundo era o mundo cor de rosa da Barbie – um mundo de meninas.
Brinquedos, como a Barbie, Ken ou Action Man, representam atores sociais através do modo como são projetados em temos de movimentos, da combinação de cores, entre outras coisas, e estes ‘modos’ estão sempre condicionados pelas ideologias e contextos sociais da época em que foram produzidos. Para Hall (1997, p. 61), representação é:
o processo através do qual membros de uma cultura usam sistemas de significação para produzir significado… Objetos, pessoas, eventos no mundo não têm em si mesmos qualquer significado fixo, final ou verdadeiro. Somos nós, em sociedade, que atribuímos significado às coisas e ao mundo que nos rodeia. Os significados, conseqüentemente, irão sempre mudar, de uma cultura ou período para outro.
De acordo com a afirmação de Hall brinquedos são, portanto, representacionais, no sentido de que eles significam como a sociedade se parece: seus papéis (relações de poder inscritas em papéis sociais), suas tecnologias (representação de ferramentas e instrumentos – carrinhos, trenzinhos, computadores e telefones de brinquedo, etc.), suas identidades e práticas sociais.
Roland Barthes (1993, p. 53) sugere que brinquedos são um “microcosmo do mundo adulto” e sempre significam alguma coisa:
[…] esta alguma coisa é sempre inteiramente socializada, constituída pelos mitos ou pelas técnicas da vida adulta moderna. Brinquedos representam, basicamente, as instituições de nossas sociedades: o Exército, a Radiodifusão, os Correios, a Medicina (maletas de médico em miniatura, salas de cirurgia para bonecas), a Escola, o Salão da Cabeleireira (secadores para fazer permanente), o Transporte (trens, Citroens, Vedettes, Vespas, postos de gasolina) e a Ciência (Brinquedos espaciais, ferramentas, etc.).
E poderíamos ainda acrescentar a Família e as relações de gênero. Jacqueline e The Rock, por exemplo, são lutadores e são produzidos para meninos – nas lojas eles estão colocados junto ao Action Man, carrinhos e outros brinquedos de meninos. Têm atributos principalmente masculinos com os quais os meninos precisam lidar – ser forte, poderoso e aventureiro. Suas características físicas (músculos salientes, os seios volumosos de Jacqueline) conotam exagero à beira da distorção. Seus corpos quase nus afirmam sua sexualidade. Ken e Barbie, por meio de seu código de vestuário, pose e aparência em geral são, por comparação, representantes do conformismo, de atividades socialmente desejáveis, como ir para o trabalho, ir às compras, etc.
Nosso objetivo neste artigo é começar a discutir como os brinquedos (e os textos e imagens que acompanham os objetos materiais) são semióticamente significativos, e como alguns de seus significados são produzidos. Iremos nos concentrar em aspectos do design, em algumas imagens através das quais as agências publicitárias divulgam seus produtos e, finalmente, na linguagem produzida para vender brinquedos. Considerando que os brinquedos são recursos que as crianças usam para entender o mundo, é importante explorar alguns desses significados.
Autores: Carmen Rosa Caldas-Coulthard e Theo van Leeuwen
Fonte: http://www3.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/0403/01.htm
O objetivo deste artigo é focalizar os brinquedos que representam seres humanos (atores sociais) e comunicam significados específicos de gênero. Faremos referência à ligação entre objetos materiais, imagens e textualidade. Nosso principal interesse está nos significados sociais potenciais que diferenciam, especificamente, brinquedos de meninos de brinquedos de meninas e nos valores relacionados a tais representações. A pesquisa feminista parece não haver dispensado atenção suficiente aos brinquedos como uma área extremamente importante em termos de representação. Assim, nosso objetivo é começar a expor e a desafiar significados sexistas e situar os brinquedos como comunicação na agenda feminista.
Figura 1 – Fotografias de Ken e Barbie’s tiradas do catálogo da Barbie; fotos de The Rock e de Jacqueline’s tiradas das caixas dos brinquedos.
Na figura 1, temos quatro representações de atores sociais criados (em princípio) para crianças. Teoricamente, qualquer criança poderia optar por brincar com qualquer um deles. Na realidade, porém, meninos tendem a não brincar com Ken; meninas tendem a não brincar com Jacqueline. Ouvimos de um pai que ele ficaria horrorizado se seu filho de 10 anos preferisse brincar com Barbies. O maravilhoso filme francês Ma Vie em Rose, dirigido por Alan Berliner, mostra muito bem o conflito vivido pelos pais que são confrontados com as escolhas feitas por seu filho em termos de identidade de gênero. No filme, o menino começa a revelar sua identidade através de sua escolha de brinquedos (ele brinca com Barbies, ou bonecas similares): seu mundo era o mundo cor de rosa da Barbie – um mundo de meninas.
Brinquedos, como a Barbie, Ken ou Action Man, representam atores sociais através do modo como são projetados em temos de movimentos, da combinação de cores, entre outras coisas, e estes ‘modos’ estão sempre condicionados pelas ideologias e contextos sociais da época em que foram produzidos. Para Hall (1997, p. 61), representação é:
o processo através do qual membros de uma cultura usam sistemas de significação para produzir significado… Objetos, pessoas, eventos no mundo não têm em si mesmos qualquer significado fixo, final ou verdadeiro. Somos nós, em sociedade, que atribuímos significado às coisas e ao mundo que nos rodeia. Os significados, conseqüentemente, irão sempre mudar, de uma cultura ou período para outro.
De acordo com a afirmação de Hall brinquedos são, portanto, representacionais, no sentido de que eles significam como a sociedade se parece: seus papéis (relações de poder inscritas em papéis sociais), suas tecnologias (representação de ferramentas e instrumentos – carrinhos, trenzinhos, computadores e telefones de brinquedo, etc.), suas identidades e práticas sociais.
Roland Barthes (1993, p. 53) sugere que brinquedos são um “microcosmo do mundo adulto” e sempre significam alguma coisa:
[…] esta alguma coisa é sempre inteiramente socializada, constituída pelos mitos ou pelas técnicas da vida adulta moderna. Brinquedos representam, basicamente, as instituições de nossas sociedades: o Exército, a Radiodifusão, os Correios, a Medicina (maletas de médico em miniatura, salas de cirurgia para bonecas), a Escola, o Salão da Cabeleireira (secadores para fazer permanente), o Transporte (trens, Citroens, Vedettes, Vespas, postos de gasolina) e a Ciência (Brinquedos espaciais, ferramentas, etc.).
E poderíamos ainda acrescentar a Família e as relações de gênero. Jacqueline e The Rock, por exemplo, são lutadores e são produzidos para meninos – nas lojas eles estão colocados junto ao Action Man, carrinhos e outros brinquedos de meninos. Têm atributos principalmente masculinos com os quais os meninos precisam lidar – ser forte, poderoso e aventureiro. Suas características físicas (músculos salientes, os seios volumosos de Jacqueline) conotam exagero à beira da distorção. Seus corpos quase nus afirmam sua sexualidade. Ken e Barbie, por meio de seu código de vestuário, pose e aparência em geral são, por comparação, representantes do conformismo, de atividades socialmente desejáveis, como ir para o trabalho, ir às compras, etc.
Nosso objetivo neste artigo é começar a discutir como os brinquedos (e os textos e imagens que acompanham os objetos materiais) são semióticamente significativos, e como alguns de seus significados são produzidos. Iremos nos concentrar em aspectos do design, em algumas imagens através das quais as agências publicitárias divulgam seus produtos e, finalmente, na linguagem produzida para vender brinquedos. Considerando que os brinquedos são recursos que as crianças usam para entender o mundo, é importante explorar alguns desses significados.
Autores: Carmen Rosa Caldas-Coulthard e Theo van Leeuwen
Fonte: http://www3.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/0403/01.htm
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