“As crianças desenham de acordo com as possibilidades emocionais e motoras. Começam desenhando garatujas, também conhecidas como rabiscos, depois vão mudando”, explica a escritora e educadora infantil Joana D’arc, de Campinas. E diz que é muito comum um adulto ver um desenho de uma criança e tentar decifrar, tirando conclusões precipitadas, quando a situação poderia ter sido vista sob ótica simplista. “Não é porque a criança fez um desenho com pessoas sem cabeça ou com expressões tristes que ela está com problemas. Aquilo pode ser simplesmente algo que ela viu na televisão”, esclarece.
A educadora exemplifica dizendo que a maioria das meninas gosta de pintar as coisas de rosa. “Isso acontece porque elas são influenciadas pela mídia. A televisão lhes mostra um mundo dessa cor”, afirma. Joana diz que mesmo sendo muito comum os alunos poderem fazer seus desenhos com tema livre, na maioria das vezes o tema acaba sendo sugerido. “Se a criança vê um colega desenhando uma árvore, pode pegar aquele tema como sugestão”, esclarece.
Segundo ela, não há problema algum em desenhar coisas inadequadas ou fazer um desenho lindo e depois rabiscar inteiro. “Não se deve procurar problemas e sim tentar achar soluções”. Joana fala que caso a criança faça um desenho que deixe o educador em dúvida, o mais indicado é “rebobinar a fita” e tentar lembrar como ela chegou à escola, se estava animada ou introspectiva e perguntar a ela o que quer dizer com aquele desenho. Pode acontecer de a criança não se sentir à vontade, sendo assim, é preciso recorrer à ajuda profissional.
Joana acha que educadores não têm propriedade suficiente para decifrar os desenhos das crianças, e ressalta que esse tipo de trabalho deve ser feito apenas por profissionais capacitados. “A criança deve ser tratada como um ser único, não há sentido em dar um desenho para uma sala de aula e tentar descobrir um problema em cada desenho”, diz.
Escritora de livros infantis, Joana lançou recentemente o “Educar com Arte” (Editora Trilha Educacional). Nele, mostra como o professor deve proceder ao passar uma atividade que precise desenhar. “O primeiro passo é dar uma folha e pedir ao aluno que desenhe com o campo aberto. Em seguida, dobrar a folha e ver se consegue repetir o que desenhou no corpo inteiro, em um espaço delimitado”. A educadora explica que a criança não deve ser censurada na forma que desenha e sim estimulada, para que desenvolva a criatividade. “Caso censurada, pode adquirir um bloqueio na hora de desenhar”.
No entanto, ela diz que a forma como a criança desenha em determinada situação pode evidenciar o estado de espírito que apresenta naquele momento. “Pode acontecer de o aluno ter uma desavença em casa e chegar à escola com a cara amarrada e não querer fazer o desenho ou pintar mal”, pondera. Diante desse tipo de situação, é preciso que o educador tenha delicadeza para tentar descobrir o que aconteceu, sem violar a individualidade e o espaço da criança.
Mais do que tentar desvendar o desenho das crianças, pais e educadores devem proporcionar um ambiente familiar e escolar agradável. “Vamos todos juntos numa linda passarela, serena e bela”, escreveu Toquinho. Se a vida tiver cores intensas e traços harmoniosos, não será difícil reproduzir isso no papel.
Cínthya Dávila (MBPress)
Imagens: http://nadaparafazer-ceci.blogspot.com/2010_09_01_archive.html
Clícia Coelho
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